Oi, minha gente
linda s2 Que saudade que eu estava de vocês e postar por aqui... Então,
como todo mundo sabe, o orkut acabou *também sinto falta daquela época e da
nossa comunidade*, e, antes de que a rede social fosse fechada, eu fui dar uma
olhada nas nossas comunidades e achei a “The Burns e Você”, vocês lembram? Era
onde eu postava os contos das meninas (e meninos!) que liam Burns e que queriam
ter um conto com o personagem preferido da série. Daíí, eu vi que faltava uns
contos a serem entregues às meninas... Desde aquela época *que horror, que
horror, eu sei, eu sei*, mas antes tarde do que nunca, voltei para escrevê-los.
E o primeiro é da Fernanda Oliveira, uma Burnicat tão, mas tããão amada que
tinha até apelido: FEM – Fernanda Mascote, por ser a mais novinha que aparecia
por lá na comunidade *fofo, fofo, eu sei*.
O personagem
preferido dela é o Will *e de quem não é?*, e aí vai a sinope e o conto logo
abaixo.
Espero que gostem:
Fernanda mal pode
esperar para completar dezoito anos e ganhar seu carro, um sonho de infância. Mas
será que ela não sabia que temos que ter cuidado com o que desejamos?
Em meio à confusão
de formatura, decidir o que fazer da vida e todos os traumas adolescentes, ela
conhece um cara misterioso interessado demais por seu carro.
E agora, quem poderá
defendê-la?
Um
Fernanda mal
podia esperar até terça-feira, quando completaria dezoito anos e ganharia seu
presente. Ou assim acreditava. Vinha
esperando por isso desde bem pequena, quando puxava seu pai pela mão e apontava
toda vez que via seu desejo na rua: "é aquele que quero, é aquele,
papai!", e seu pai respondia: "é claro, Fem, é claro".
O final de
semana pareceu se arrastar e ela preferiu nem sair de casa, apesar da
insistência dos amigos em se distrair. Estava ansiosa demais para ficar perto
de outras pessoas, ansiosa demais para ficar sozinha, estava... Quase tendo um
surto.
Respirando
fundo para se acalmar, deitou-se na cama com os fones de ouvido enfiados nas
orelhas, a música no volume mais alto possível e adormeceu antes que se desse
conta.
Teve um
sonho que jamais esqueceria. Colocou a culpa na ansiedade depois que acordou.
Havia
ganhado seu presente, mas alguém, era um rapaz? Esse alguém estranho,
desfigurado como são as pessoas nos sonhos, meio sem rosto, sem forma, queria
tirar seu presente tão desejado de suas mãos... Ela não podia ficar com o que
havia ganhado porque... Os olhos, os olhos dele eram a única coisa que Fernanda
conseguia ver, eram cinza e causavam arrepios.
Acordou no
momento em que o os garotos de Liverpool pediam que a "querida"
acreditasse neles... Não sabia exatamente onde estava, a blusa grudava no corpo
pelo suor e o coração batia com força em seu peito.
Estava
ficando maluca. Tinha que se acalmar. Seu presente viria, seus pais haviam
prometido... Tudo ficaria bem. Pelo amor de Deus.
Era
exatamente como sonhara desde pequena. Era como se seus pais o tivessem tirado
dos pôsteres nas paredes de seu quarto e o colocado ali, encostado ao meio-fio
da calçada. Brilhava com o Sol, ela conseguia se ver refletida na pintura
preta, o cabelo castanho voando pelo vento e o sorriso bobo no rosto.
– É meu? –
perguntou de maneira bem estúpida.
– Claro que
é– respondeu sua mãe dando risada – Você é a única adolescente que gostaria de
ganhar algo assim.
– É lindo! –
exclamou dando pulinhos no lugar, ainda incapaz de chegar muito perto e ver seu
sonho desaparecer. Não tivera coragem nem de tocá-lo.
– Vamos,
pegue – ofereceu seu pai, colocando as chaves em sua mão. Ela se sentiu
deslizar para dentro de um conto de fadas ao fitar o Fusca Preto que brilhava
diante de seus olhos.
Os bancos
eram tão macios contra suas costas quanto imaginou que seriam, o volante era
firme em suas mãos e tudo cheirava a couro e a gasolina. Tudo era tão dela.
Se ao menos
ela tivesse imaginado também o que aconteceria...
Dois
Alguns meses
se passaram enquanto fazia a autoescola e passava no teste de direção. Era seu
primeiro dia como motorista e queria comemorar. Teria uma festa no lago e todos
seus amigos e conhecidos estariam lá. Era quase uma despedida antes da
formatura. Levaria tantos coubessem no carro; mal podia se segurar de tanta
alegria e ansiedade. Retocou a maquiagem, mais uma vez, no espelho retrovisor e
saiu correndo porque estavam a chamando.
O grama era
quase barro porque estivera chovendo um dia antes e seus tênis ficaram imundos
em pouco tempo. Nem ligou porque a música era boa e o pessoal estava se
divertindo.
Pegou outra
garrafa de água e, sentando-se em um banquinho improvisado de caixa de cerveja,
fitou a água escura do lago. A lua refletida naquela superfície que mal se
movia a fez fugir dali e ir parar em um mundo só seu. Perguntou-se onde estaria daqui dezoito anos,
quem seria, que sonhos teria realizado e o que queria fazer agora. As pessoas a
sua volta pareceram desaparecer, todos os amigos que teve a vida inteira...
Alguns iriam embora para estudar em outras cidades, outros ficariam por ali,
fazendo cursinhos ou trabalhando com a família. Muitos, como ela, simplesmente
não sabiam o que fazer depois da formatura.
– Fernanda! –
berrou alguém a arrancando de seus pensamentos. Sua melhor amiga estava a
alguns metros de distância e, por sua expressão, dava para ver que não era a primeira
vez que a chamava – Tem alguém rondando seu carro!
Levantou-se
num pulo. Não sabia o que faria quando visse o possível ladrão, tudo que tinha
que na mão era uma garrafa meio vazia de água, as chaves do carro e de casa e o
celular que nem era grande o suficiente para causar algum estrago. Desejou, bem
bobamente, ter um taco de baseball como nos filmes americanos.
Era um rapaz
e não estava realmente rondando o carro. Tudo que ele fazia era estar
escorado a uma árvore. Os braços cruzados e as pernas meio cruzadas também.
Parecia esperar alguém.
– O que faz
aí? – perguntou quando se aproximou dele. Não quis demonstrar que estava vistoriando
o carro de longe. Não o reconheceu, se bem que ele estava na parte mais escura
da floresta.
Tudo que
conseguia ver era que era alto.
– O que você
faz aqui? – retrucou o rapaz e ela deu um passo para trás com a potência de sua
voz. Era grossa e poderosa. Rouca como um locutor de rádio.
– É a festa
da 301 e eu sou aluna da 301. Você não parece um colega meu.
– E não sou
mesmo – respondeu ele e se aproximou. Ele poderia passar por um aluno do
terceiro ano se quisesse. Era um rapaz alto, ombros largos e braços fortes. Os
cabelos eram castanhos e a pele pálida como se não visse sol há séculos. Com a
luminosidade da lua, ele parecia quase azul.
– Eu nunca
vi você por aqui – disse Fernanda colocando a mão no peito numa tentativa muito
ingênua de controlar o coração que pareceu querer pular para fora do corpo.
– Estou
visitando a cidade – continuou a se aproximar, o suficiente para que ela visse
sardas em seu rosto e o dourado de seus olhos – Esse carro é seu ou dos seus
pais?
– Por que
quer saber? – ele era tão bonito e parecia tão perigoso, mas
passava uma tranquilidade com sua presença que a assustava. Ela não sabia se queria sair correndo para longe dele ou para os braços dele.
passava uma tranquilidade com sua presença que a assustava. Ela não sabia se queria sair correndo para longe dele ou para os braços dele.
– Gosto de
carros. – e deu de ombros.
– É meu.
– Posso te
contar uma história? – perguntou ele ainda se aproximando, invadindo o espaço
de Fernanda com toda sua presença, tanto que ela sentiu as costas baterem na
lataria gelada do carro. Conseguiu apenas assentir. Sentia-se tonta, meio
bêbada, mesmo sem ter bebido um gole sequer.
– Há muitos
anos, existiu um casal; eles eram muito perigosos, gostavam de velocidade, de
carros raros, de apostar. Dizem que a mulher era a mais perigosa dos dois, seus
olhos cinza brilhavam com maldade sempre que conseguia algo que não deveria,
mas sempre conseguia tudo que queria. Ele, tão apaixonado, dava-lhe tudo que
ela pedia. Os dois rodaram o mundo inteiro atrás dos desejos desenfreados da
mulher, até que ela pediu algo que ele nunca conseguiu lhe dar...
E fez
silêncio por um momento. Fernanda ficou hipnotizada esperando que ele
continuasse a história, mas o rapaz apenas ficou parado ali, encarando o nada.
– O que ele
nunca conseguiu dar a ela? – perguntou quando não aguentou mais de curiosidade.
– O quê? –
ele voltou-se para ela, como se despertando de um sonho. Fernanda lembrou-se de
si mesma há poucos minutos encarando o lago.
– O que o
idiota apaixonado nunca conseguiu dar a vadia louca?
Ele riu com
a descrição dela dos personagens da história e ela sentiu o coração parar de
bater um minuto antes de bater muito rápido. Ai, não, pensou. Aquela
risada era quase infantil e iluminava todo seu rosto, deixando-o jovem, tão
jovem que ela sentiu o impulso doido de abraçá-lo contra seu peito e acariciar
seu cabelo.
– Esse
carro. – respondeu, apontando para o fusca atrás deles e foi a vez dela de rir.
– Tem uma
outra história que conta que...
– Você é
cheio das histórias, cara misterioso – o interrompeu e, não resistindo ao
impulso, tocou em seu braço. Sentiu seu sangue correr embaixo da pele de uma
maneira que nunca sentira antes, como se quisesse pular para fora do corpo.
Ele se
afastou e Fernanda se sentiu decepcionada sem saber por que. Como um gato ao
escutar algum barulho suspeito, ela o viu levantar a cabeça e estreitar os olhos.
– Entre no
carro, moça.
– O quê?
– Entre no
carro e saia daqui.
– Quem você
pensa que é par... – Fernanda não pode terminar de falar porque já estava sendo
arrastada para dentro de seu fusca, apesar de seus protestos. Tentou gritar,
mas ele foi mais rápido e tapou sua boca com uma mão.
– Apenas
ligue o carro e acelere, não olhe para trás – sussurrou em seu ouvido – Tem
gente vindo.
Ela
simplesmente obedeceu.
Não tinha
noção que seu carro podia acelerar tanto, mas sentia que ele também poderia
estar com medo. O motor rugia a cada aperto insistente no acelerador, fazendo
quase o mesmo som que seu coração desenfreado.
– Quem você
disse que está atrás da gente? – gritou por cima do barulho do motor.
– Eu não
disse. – respondeu o rapaz. Estava prestes a odiá-lo, percebeu. Não importava o
quão bonito ou atraente ele fosse, Fernanda apenas queria esganá-lo.
– Então, o
que você fez para eles?
– Eu não fiz
nada – ela se virou a tempo de vê-lo dar de ombros irritantemente entediado –
Eles apenas querem a mesma coisa que eu.
Quando ia
perguntar o que era, lembrou-se, pela primeira vez desde que ele mandara ligar
o carro e acelerar, de olhar pelo espelho retrovisor. Não havia ninguém.
Ninguém.
Ninguém atrás deles.
Freou
bruscamente, mandando os dois para frente. Sentiu o cinto queimar seu braço,
mas não se importou com isso. Estava parada no meio de uma estrada deserta, de
madrugada, com um desconhecido. Nem precisava verificar o celular para saber
que ali não teria sinal. Ótimo. Ninguém nem merecia ficar triste com a morte de
uma garota tão burra quanto ela.
– Você tem
que continuar dirigindo...
– Você
tem é que sair do meu carro e me deixar em paz!
– Não posso
deixá-la sozinha – ele retrucou e, na escuridão, houve um brilho de prata em
seu olhar castanho – Eles estão vindo.
Estava
nervosa demais para rir daquele clichê de "eles estão vindo". Com
medo demais de mandá-lo sair de seu carro de novo e ter que suportar sua ira.
Só queria que aquilo tudo terminasse e único medo que tivesse fosse sobre se
iria ou não ganhar um bom presente de aniversário.
– Quem está
vindo? – no momento em que terminou de dizer as palavras, uma sombra muito corpórea
pulou no capô do carro e Fernanda não fez nada além de gritar. As árvores dos
dois lados da estrada pareciam agora todas inimigas que escondiam outras
criaturas como aquela a sua frente, que arregaçava os dentes para ela. O que
era aquilo? Presas? Presas?!
Sentiu o pé
do rapaz ao seu lado sobrepor ao seu no acelerador e sua mão na dela ao trocar
de marcha e irem com tudo para frente, apesar dos protestos do carro que eram
tão vãos quantos os dela.
O homem foi
arremessado para longe, mas a paz não durou muito, porque logo se ouviu outro
estrondo, dessa vez, sobre a cabeça deles e a lataria do carro ceder um pouco.
Fernanda já
não sabia mais se gritava de medo ou de raiva por estarem destruindo seu lindo
e amado carro.
– Eu disse
para não parar! – gritou ele quando ouviram o segundo homem também cair.
– Eu não
sabia que você falava a sério!
– Por que eu
estaria mentido? – ele até soava ofendido.
– Eu não
sei! – berrou ela, esgotada – Eu não te conheço!
Seguiram em
um silêncio raivoso por quase uma hora; nem sabia mais onde estava, nunca saíra
tão longe assim da cidade, não dirigindo pelo menos. Tudo era tão escuro e
assustador.
Inclusive o
ponteiro no painel indicando que a gasolina estava em suas últimas gotas. Era
só o que faltava.
– A gasolina
está acabando – avisou, quebrando o silêncio – Daqui a pouco, o carro vai
parar.
– Daqui a
pouco vai amanhecer – foi tudo que ele respondeu de volta.
Graças a
Deus que tudo ficaria claro e talvez tivesse algum movimento pela estrada,
pensou Fernanda, para que pudesse pedir ajuda. Logo, também, seus pais
sentiriam sua falta e iriam procurá-la.
– Quero ir
para casa – murmurou tão baixinho quando, finalmente, o carro morreu, que não
esperava que ele ouvisse.
– Não
destranque as portas, volto logo – avisou ele saindo do carro e desapareceu
entre as árvores.
Agora
morreria, pensou. Puf! Fim de uma vida.
Esperou por
alguns minutos e resolveu se arriscar. O que de pior poderia acontecer a ela?
Saiu do carro e começou a fazer o caminho de volta à cidade, rezando em
silêncio para que não encontrasse aqueles homens bizarros no meio da estrada.
Revisava o celular, esperando que o sinal milagrosamente aparecesse e pudesse
chamar seus pais.
Não tinha
andado nem meia hora quando tudo aconteceu muito rápido. Foi jogada para trás e
sentiu a cabeça bater no esfalfo. Literalmente via estrelas quando apagou.
Gostaram? Podem baixar o conto completo aqui.
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