sábado, 21 de dezembro de 2013

Especial de Natal - parte I

Oi, povo amado de Burns!

Como viram, temos postado há alguns dias, umas imagens na página de Burns com algo chamado "especial de Natal", então... Aqui vai um conto que eu e e a Jess preparamos para vocês, misturando o mundo Burns com o mundo Haunt do livro de fantasmas dela *--* Espero que gostem e, por favor, comentem!

Conto de Natal

O jogo havia travado de novo e ela trambaleava os dedos no teclado, inquieta e contendo um suspiro. A eternidade conseguia ser entediante quando tudo que se tinha era um computador pré-histórico.
— O que está fazendo?
Letícia deu um pulo na cadeira e encarou os castanhos olhos de Will que estava com o rosto muito próximo do seu, fitando a tela verde do computador.
— Para uma vampira, você é muito distraída.
— Para um ser vivo, você é muito chato —  retrucou ela o fazendo rir. Sua proximidade a intimidava, a fazia sentir-se ainda menor do que era.
— Não sou mais um ser vivo, nem chato — e voltou a encarar o monitor —  Sério, o que está fazendo além de queimar as retinas?
Will conseguia ser bastante curioso quando queria e Letícia só o perdoava porque sabia que também o era.
— Tentando jogar paciência — respondeu e o viu franzir as sobrancelhas como se ela tivesse falado em alguma língua estrangeira não usada há milênios.
Jogar paciência? — repetiu ele sem entender — Você joga a paciência em alguma coisa? Como isso funciona?
Letícia pensou que se pudesse jogar a paciência em alguma coisa, jogaria nele. Suspirou, girando a cadeira para ficar de frente a ele. Nem adiantava tentar explicar o que fazia no computador, conhecia o pavor de Will por qualquer coisa tecnológica.
— Viu que dia é hoje? — perguntou, mudando de assunto e desistindo de uma vez por todas de fazer aquela máquina funcionar.
— Vinte e três de dezembro, — respondeu ele prontamente — por quê?
— Os vampiros não comemoram o Natal? — quis saber esperançosa.
— Por que comemoraríamos? Estamos meio longe do catolicismo, sabe...
— Sabia que tem umas teorias que dizem que Jesus seria o primeiro vampiro? — disse ela o assistindo arregalar os olhos — Essa coisa de ressuscitar no terceiro dia é bem sugestiva.
Fazendo dois sinais da cruz seguidos, ele respondeu, sério:
— Isso é blasfêmia, Letícia.
— Está bem, está bem — suspirou mais uma vez — Desculpe.
Sabia que não era direito usar a história de uma religião para conseguir o que queria, mas... Francamente? O que ela perderia ao tentar? Sem contar que era muitíssimo engraçado vê-lo benzer-se e essas coisas.
— É que... É o primeiro Natal em muito, muito tempo que não vou precisar passar em um hospital — disse com a melhor voz inocente que conseguia fazer — Claro, a parte de ter finalmente morrido não é muito alentadora, mas é tudo que tenho.
Viu Will olhar para baixo como se envergonhado por ser tão egoísta e não querer dar um Natal para a garotinha com câncer e quase, quase se sentiu culpada. Porém, queria uma árvore com enfeites coloridos, queria o aroma de peru com batatas no forno e queria, mais que tudo, se sentir mais próxima a sua família. Sabia que não deixariam sua irmãzinha sem um Natal e, se tentasse bastante, podia até fingir que estavam todos juntos esperando a meia-noite para abrir aos presentes.
— Não sei se Marcus e Debora vão gostar da ideia de comemorar uma data dessas... Sabe como conseguem ser sensíveis quando querem.
Letícia queria dizer que quem parecia tão relutante em comemorar o Natal era ele, mas ficou quieta. Estava conseguindo.
— Ah, Will, por favor — e olhou para ele com seus grandes olhos escuros como se estivesse a ponto de se desabrolhar em lágrimas. Jogava sujo.
— Está bem, está bem — respondeu Will levantando-se como se fosse começar o Natal ele mesmo nesse exato momento. Tudo para não vê-la chorar. Coitadinho, pensou ela, estou o torturando.
— Então, vamos comprar uma árvore! — ela também se levantou, animada. Nada de choro – E luzes coloridas, guirlandas, panetone e presentes para todo mundo! – terminou com os braços abertos.
— Que Deus nos ajude — foi tudo que Will respondeu, mas dava para sentir um sorriso em sua voz.


~ ♦ ~


— Acooordaa! — Danielle deixando a cama intangível, fazendo Daniel cair por dentro do colchão. Acertando o nariz em cheio o piso do quarto.
— Aaahh, Daanieellle! — resmungou Daniel depois de cair e, ao tentar levantar, bater a cabeça na cama.
— Levanta!  — gritou ela de novo, jogando-se sobre a cama já em sua forma física, sem atravessá-la.
— Danielle, por que... — reclamava Daniel emergindo da cama, atravessando estrados, colchão, lençol e edredom como se fossem feitos de água — Por que fez isso? Qual é seu problema?
— Ah, você tinha me prometido que iríamos fazer compras e até agora nada — se explicou a menina como se fizesse sentido ter acordado ao irmão daquela maneira.
— Faz sete dias que não consigo dormir nada e, quando consigo, vem essa criatura que chamo de irmã, me acordar.
— Ele voltou? — Danny quis saber preocupada, até mesmo se esquecendo que fora ofendida.
— Não — respondeu com firmeza — Estamos bem. Eu não sei... — suspirou, exausto — Posso descansar mais um pouco?
— Claro. Vou me arrumar ainda. Podemos sair às sete? — ela indagou se levantando.
— Sim — revirou os olhos — Mas temos mesmo que ir hoje? — ele disse se espreguiçando, tudo que queria era poder ficar naquela cama... Para sempre. Sem pesadelos, de preferência.
Danny bufou
— Eu já te falei isso, a Shine Star está com uma bela liquidação de árvores de Natal. E já é dia 23...
— Ah, mas... — fechou os olhos e se aconchegou melhor no cobertor — Você não pode ir sozinha?
— Quer que eu traga uma árvore enorme e cheia de enfeites sozinha? – tentou ela mostrando-se mais frágil e delicada que nunca.
— Ahn... — suspirou Daniel quase num ronco — Mais dez minutos...
(Doze minutos mais tarde)
— Vamos? — berrou Danielle entrando no quarto de seu irmão.
Daniel estava pronto, completamente vestido, até usava tênis, mas ainda deitado na cama. De bruços. Dormindo.
— Ah. Daniel... — ela sentou-se ao lado do irmão. Começou a afagar seus cabelos.
— Ainda dá tempo? — indagou o rapaz, abrindo apenas um olho.
— Sim. Mas se não...
— Não... Tudo bem — respondeu Daniel levantando-se e dirigindo-se até a janela em passos cambaleantes. Parara de nevar no dia anterior, porém o frio ainda era intenso. Pensou ter visto alguém por entre as árvores, porém, deixou a ideia impossível de lado. — Mas você vai ficar devendo uma... — apesar da ameaça, um sorriso brilhava em seus lábios.
— Ninguém mandou você sair sonâmbulo pela casa e quebrar a árvore... – começou a reclamar como já vinha reclamando há alguns dias.
— Que droga, Danny, já pedi desculpas e vou te ajudar com a árvore, não vou? — perguntou ele ranzinza enquanto se dirigiam ao centro da cidade.

(Em frente à loja de enfeites e árvores de Natal no lado externo do shopping)

— Essa é a Shine Star? Que...
— Grande? — completou Danielle sorrindo para o queixo caído de seu irmão.
— É... Que tanto brilho — balançou a cabeça como se assim aquele brilho todo fosse desaparecer de suas pálpebras — As árvores também brilham? — perguntou ele indignado.
— É só a fachada – respondeu dando risada — E não, não brilham. Quer dizer, não todas.
Daniel estremeceu reconhecendo a faísca que cintilou nos olhos da irmã.
— Ah, não. Ah, não! — balançava a cabeça com muito mais ênfase — A nossa não vai brilhar!
— Imagina só! Uma árvore que brilha! — resmungava um jovem alto, forte, com olhos e cabelos castanhos, igualmente indignado enquanto carregava no ombro uma árvore sem nenhuma dificuldade e passava pelos irmãos — O que é isso, meu Deus? Só falta dizer que nós também brilhamos, oras!
— Ah, era só olhar melhor — respondia uma garota animada, com olhos e cabelos escuros, este bem curto. Parecia pequenina e frágil perto dele — Essa nevada é muito melhor. Grande, linda... — suspirava.
— Viu? Não sou o único que... Não... Gosta de... Brilho... — Daniel estava com o olhar perdido na direção em que o casal que passara por eles havia tomado.
— Dan? — chamou a irmã — O que houve? — como ele não respondeu, o sacudiu de leve.
— Estou tonto... É... — ele apertou os olhos, fechando-os. Pousou as mãos sobre as têmporas. — Danielle, pode sentir?
— Não, eu não estou detectável — respondeu ela referindo-se ao poder de ficar “fora do radar” de qualquer criatura, deixando-a protegida. Claro que também poderia ser surpreendida a qualquer momento, já que, ao ficar indetectável, não era capaz de sentir nenhum ser sobrenatural por perto. “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” e aquela coisa toda.
— Então, fique – ordenou – Mas quem você sentirá agora não será eu.
Danielle deixou que as outras criaturas a sentisse. Um arrepio a invadiu, não de cima para baixo ou de baixo para cima, como acontece com os outros fantasmas. Era de dentro para fora. Era intenso. Era diferente. Não podia ser um fantasma.
Aquilo não era nada normal.
— O que é isso? — perguntou num sussurro de surpresa. E medo, não podia negar. O arrepio havia mexido com todo seu corpo.
— Aqueles que passaram por nós — respondeu seu irmão abrindo os olhos. Carmim. — Eles são especiais. De um jeito muito ruim.
— Você voltou — exclamou ao ver os olhos vermelhos do irmão — A insônia...?
— Estou inquieto há dias – respondeu o corpo de Daniel — Sinto-os há muito tempo. Esse perigo me deixa assim.
— Onde eles estão?
— Lá — apontou Daniel para o outro lado da rua — Vou ver quem são — e começou a atravessar a rua.
— Dan! – gritou ela, alarmada — O sinal está fechado para nós!
— E? — ele sorriu, continuou atravessando, não se importando com o carro que vinha em alta velocidade.
Não houve pneus riscando o asfalto, não houve baque. Não houve nada, já que Daniel nunca chegou a ser atropelado. Ele apenas atravessou o carro sem dificuldade, como um bom e velho fantasma. Intangibilidade era seu poder favorito. Sem nunca se machucar e ainda podendo machucar os outros com isso. Perfeito.
Poucas pessoas viram. Pouquíssimas mesmo; todas pareciam estar ocupadas demais com os produtos da loja para ver um adolescente atravessar a rua e ser atropelado. E como não foi realmente atropelado, ninguém o viu.
Ninguém exceto os perseguidos por Daniel, que ficaram espantados com o que o garoto acabara de fazer. Já haviam ouvido rumores, mas o que viram fora ainda melhor que seus mais ambiciosos sonhos.
— Como você fez isso? — perguntou Letícia, a pequena garota num sussurro. Havia parado de andar no exato momento em que o garoto colocara o pé na rua. Seus olhos negros estavam arregalados, mas a voz era firme. Ela, sim, havia visto o que realmente acontecera, mas não os perseguidores desaparecerem às sombras.
— Isso o quê? — indagou Daniel tão impressionado com o poder exalado pelos dois jovens ali parados que nem se recordava mais que atravessara um carro ou dos caras estranhos que o seguiam.
— Esse seu truquezinho de mágica — respondeu Will, o jovem alto, desconfiado. Nunca vira algo como aquilo e não conseguia ver como aquilo podia ser bom — Sabe, atravessar veículos em alta velocidade.
— Daniel, você... Atravessou o carro... — dizia Danielle atravessando na faixa de pedestre. Estava abismada e furiosa — Ah, Daniel... — disse ela dando um soco em seu ombro.
— Aí... Mas eles... São... — ele queria que sua irmã entendesse que estava acontecendo algo mais importante que o fato de quase ter sido atropelado.
— Somos? — desafiou Will dando um sorrisinho e levantando as sobrancelhas.
— Hum... — Dan os fitou, observando cada detalhe. Eram muitos bonitos. A garota devia ter a sua idade, olhos grandes e escuros, cabelos curtos num corte moderno, castanhos. Pele alva. Aparência frágil. Já ele devia ter quase vinte, forte, olhar penetrante, olhos e cabelos castanhos. — Vocês são especiais, mas...
— Você atravessa um carro e nós que somos especiais? – cortou Letícia balançando a cabeça — Nessa cidade ser especial tem outro significado?
— Já que vocês não são daqui, deveríamos nos conhecer melhor – convocou Daniel, cruzando os braços, não deixando espaço para uma negativa.
— É melhor irmos para um lugar menos movimentado — sugeriu Will olhando por detrás dos ombros do fantasma. Ele sentia algo suspeito.
— Também acho — concordou o garoto — Essa presença me incomoda — e espiou por sobre os ombros.
— Você também percebe? — quis saber Letícia surpresa. O que aqueles dois adolescentes seriam?
— Sim — assentiu. — E me incomoda muito.
— Então vamos para um lugar mais calmo — disse Danielle sorrindo — Até por que não percebi nada — Não gostava de se sentir assim, de fora.
— Tem alguma praça de alimentação nesse shopping? — quis saber Letícia – Aproveitamos e compramos os enfeites no caminho.
— De verdade que você quer continuar com essa coisa de Natal? — perguntou Will quase rezando para que ela dissesse que não. A árvore em seu ombro era incômoda.
A vampira apenas o ignorou.
— Tem sim — respondeu Danny —Vamos, também temos que comprar a nossa árvore. Mas primeiro temos que conversar.
— Está bem, vamos — concordou Will já impaciente. Queria saber quem era aquele garoto de olhos... Vermelhos? — E essas lentes? Bonitinhas, até, para alguém vindo do inferno — não se aguentou e brincou.
O adolescente o respondeu com uma gargalhada
— Ah, não são lentes, não. São de verdade mesmo. E sou de Casper, não do inferno...

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