(Na
praça de alimentação do shopping, sentados em uma mesa)
— Então... — os vampiros começaram
antes, sem tempo a perder — Seus nomes?
— Daniel e Danielle Haunt...
— São gêmeos? — indagou Letícia.
— Somos — respondeu a irmã – E seus
nomes?
— Will Draw e Letícia – respondeu o
vampiro e sorriu com o canto da boca – Que sobrenome interessante. Aposto que
nem temem o meu...
— Will! — chiou Letíca tentando não
revirar os olhos. Como se cada criatura do mundo tivesse que reconhecer e temer
ao sobrenome Draw.
— Vocês, por acaso, temem ao nosso? —
indagou Daniel rindo do absurdo de se temer a um nome.
— Não tememos a nada — assinalou Will
com um certo brilho assustador no olhar.
O fantasma apenas balançou a cabeça e
resolveu se divertir um pouco. Buscou com o olhar as lojas que rodeavam a praça
de alimentação lotada e, quando encontrou o que queria, chamou Letícia com um
“hei”.
— Isso ficaria bem em você — disse ele apontando
para um curto vestidinho branco de alças finas e com rendas que o deixava
praticamente transparente.
Letícia olhou para suas roupas negras e
depois para o vestidinho. Começou a rir.
Ouviram um rosnado sair da garganta de
Will e ele desaparecer por alguns minutos apenas para voltar um tempo depois
com uma sacola na mão e entregar para Danielle. A árvore de Natal nunca saíra
de seus ombros.
– Isso
– enfatizou a palavra – ficaria bem você.
A fantasma espiou para dentro da
sacolinha e teve que rir. Não sabia o que mais poderia fazer.
— Vocês são namorados? – ela perguntou
para uma Letícia muito curiosa que tentava ver o que continha na sacola – Porque
ele está dando em cima de mim.
A vampira não viu, mas Will ficou mais
vermelho que qualquer enfeite de Natal daquele shopping.
Daniel não podendo mais se aguentar de
curiosidade e com aquele ciúme besta de irmão, acaba puxando a sacola das mãos
da irmã que avisa:
— Você, de verdade, não vai querer ver
o que tem aí dentro.
Mas era tarde demais e Dan já tirava
com as pontas dos dedos uma lingerie azul claro tão pequena que sumia em suas
mãos com facilidade.
— Vamos parar com brincadeiras,
por favor – interrompeu Letícia quando viu que os olhos do garoto voltavam a
ser vermelhos e que Will estreitava os seus — Vocês não estão com fome?
Os gêmeos voltaram em alguns minutos
com gordas bandejas do McDonald’s e sentaram-se em frente aos vampiros que não
haviam pedido nada por enquanto.
— Como seus olhos estão azuis? —
perguntou Will fascinado, parecia que a hora da brincadeira havia ficado para
trás.
— As pessoas não estão acostumadas com
olhos carmim.
O vampiro apenas assentiu. Pessoas, os
humanos, também não estavam acostumadas com presas e frios olhos cinza.
— Vocês não comem? — indagou Danielle, dando
uma boa mordida em seu hambúrguer.
— Bem... – Letícia olhou incerta para
Will e de volta para Dany – Fazemos a dieta de grupo sanguíneo
— Não parece que vocês precisam de
dieta – retrucou a outra garota.
— É, – remexeu-se – Mas só podemos
comer coisas vermelhas por certo tempo.
— Tem salada, peça tomate, sei lá... — tentou
Daniel, também comendo.
— Não, obrigado — cortou Will e
virou-se para eles decidido. — Afinal, o que vocês são?
– Eles estão comendo, Will – disse
Letícia – Mas será que está tudo bem em falar? E Marcus...?
— Ele não precisa saber. – retrucou convicto
– E estou louco para saber o que Daniel é e tenho certeza que você também.
Ela não teve opção senão concordar.
— O que acham que somos? – perguntou ela
para os gêmeos.
— Bem, não comem e odeiam brilho. Devem
ser algo das trevas — respondeu Danielle rindo.
— Algo das trevas tipo fadas dos dentes
e essas coisas? — tentou Letícia com um sorriso enigmático — Não, somos piores
que isso.
— É, somos. Somos... — Will pegou um
guardanapo e puxou uma caneta. Escreveu “Vampiro”
e deu para os gêmeos lerem, não podia simplesmente dizer a palavra em voz alta.
Daniel o olhou e sorriu dando o papel
para sua irmã. Danielle leu e se assustou, quase se afogando com o refrigerante,
mas não perdendo a oportunidade, perguntou para ele:
— E nossos poderes?
— Funcionam sim, – garantiu Dan – não
se preocupe...
— Como você sabe?
— Já vi um.
— Já viu e sobreviveu? – quis saber
Will, descrente e surpreso – Como?
— Meus poderes funcionam contra eles,
pois somos... — Daniel pediu a caneta a Will, e escreveu “Fantasma”. Will leu e arrepiou-se.
— Deus me livre! – fez um sinal da cruz
– Não, não existem fantasmas — e
sussurrou a última palavra.
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