terça-feira, 17 de maio de 2011

Terça, Hora do Conto (Violet em Roma)


Ano passado, eu fiz uma promoção na comunidade The Burns, prometendo ao leitor que conseguisse reunir amigos para entrar na comunidade e ler os rascunhos de Chamas de Sangue, um continho com seu personagem preferido, tendo a si mesmo na historinha.
Esses continhos foram postados na comunidade The Burns e Você e eu venho aqui mostrá-los para vocês agora.
Toda terça-feira eu vou postar um conto e chamaremos isso de TERÇA, HORA DO CONTO!

Esse primeiro foi feito para a burnicat Violet, que escolheu como personagem Matteo Bonamicci.

Violet em Roma

Roma, Itália, Europa, uma viagem de quinze dias, quem diria que as férias de inverno poderiam mudar a minha vida?
Violet sonhava com essa viagem há muito tempo, mas seus pais sempre diziam a mesma coisa:
Você tem que crescer, criar juízo e demonstrar responsabilidade, precisamos confiar em você.
E, no seu aniversário de dezoito anos, ela viajaria para Europa sozinha, SOZINHA, dava para acreditar? Nem ela acreditava.
Mas no meio do caminho encontrou Matteo Bonamicci, um rapaz, um homem, um cara misterioso e... Lindo, com os olhos mais azuis que ela já viu na vida.
Por que caras lindos sempre tinham segredos?
Um segredo que ela desvendou.
Um segredo que ela guardou.
Um segredo que ela teve que proteger com unhas, dentes... E com as presas dele.

Um


O avião estava bem no meio de uma turbulência desgraçada, Violet rezou baixinho para os santos de nomes italianos que ela conhecia. Bem, estava indo para Itália, talvez os santos de lá a ajudassem a sair viva desse avião.
Itália... Itália... Itália... Sim, ela não acreditava que estava sozinha num avião lotado no meio do oceano atlântico indo para outro continente.
Seu estômago deu um giro radical com a ansiedade.
Não era ansiedade, estavam pousando.
O avião não caiu, não explodiu, não se partiu ao meio, não bateu em nenhum prédio, não aconteceu nada, ele apenas pousou.
Violet estava na Itália, finalmente.
Ela não sabia, mas talvez ela não voltasse para casa tão cedo.
Talvez ela nunca mais voltasse para casa.
Quem disse que férias não podem ser emocionantes?

 Dois

Olhou pela janela, noite, até que enfim... De que adiantava estar na cidade mais linda do mundo se não podia desfrutar de seus encantos?
Para Matteo Roma era como uma linda mulher... Era quente, te fazia suar, mas estava a sua espera para te refrescar no verão.
No inverno, ela era fria, mas nunca frígida, sempre havia um bom lugar para se aquecer.
E à noite? À noite, Roma, a Linda Mulher, brilhava.
E para um vampiro, isso era tudo que ele podia querer... 
Hoje era uma noite quente e imaginando as mulheres – presas – suando e soltando seu cheiro por ai, ele sorriu para o vazio.
Hoje era uma ótima noite para caçar.
Hoje era uma ótima noite para alguém morrer, o que ele não sabia era que esse alguém poderia ser ele.

 Três

Violet suava dentro de seu vestido azul levezinho. Graças a Deus sua mãe havia colocado essa peça de roupa escondida em sua mala. Santa Mamãe.
Roma era linda, linda, linda... Mas ela escolheu a época errada para viajar. DEFINITIVAMENTE. Qual a graça de ir para a Europa para sentir calor? Sair de um país infernal – climaticamente falando – para ir para outro exatamente igual não estava em seus planos, mas o que ela poderia fazer agora? Nada... Tomar os famosos sorvetes italianos era uma boa pedida... Uma ótima pedida.
Indo até uma maquininha de sorvete expresso, ela passou por muitas pessoas que riam, conversavam, falavam alto e brincavam entre si.
Viajar sozinha não era tão bom assim, ela teve que admitir.
Violet não sabia, também, que essa era a última hora que ela passaria sozinha.

 Quatro

Esses vampiros não tinham noção, nem medo da morte, pensou Matteo irritado.
Quantas vezes teria que dizer que aquela era sua zona?
Está bem que só estava na Itália há poucos meses, mas ele era um vampiro poderoso, um Líder, ele poderia escolher o lugar que quisesse como sua zona de caça e que os outros vampiros se fudessem e fossem procurar por outro lugar, ele que mandava. Era uma atitude completamente arrogante e mesquinha, mas era assim que funcionava no mundo dos vampiros.
Líderes podem, Líderes mandam.
Vampiros comuns pedem, Vampiros comuns obedecem.
Enquanto ia até um dos vampiros que estava se aproximando de um grupo de jovens meninas, ouviu um grito agudo e assustado.
Merda, estavam atacando em dupla hoje.
Desde quando Matteo havia virado um Policial de Vampiros?

 Cinco

Violet não viu o homem chegando, quando percebeu, já estava sendo arrastada para longe, para um beco estreito que ficava entre as casas antigas no centro de Roma.
Gritou, mas seu grito saiu agudo demais, feminino demais, apavorado demais. Sabia que o cara que estava a arrastando devia ter adorado isso.
Sua perna exposta por causa do vestido curto raspou na pedra e cheiro de sangue humano invadiu o ar.
Ela pode ouvir o homem murmurar algo, mas era em italiano e ela não entendeu.
Não parecia uma boa hora para ela puxar seu dicionário da bolsa, parecia?
Foi jogada contra a parede, sua cabeça bateu com força e voltou. Sangue saiu de sua boca e ela pode ver o homem que estava fazendo isso.
Ele era baixo, devia ter no máximo 1,60m de altura e devia pesar uns 50 kg apenas, mas como ele conseguia ser tão forte?
Quando ele se aproximou, ele foi rápido, como naqueles filmes onde você pula para a cena seguinte e fica se perguntando o que perdeu. Cena seguinte: ele com as presas no pescoço dela.
O que ela perdeu?
Ela perdeu que ele era um vampiro.
Ela perdeu que vampiros existem.
Ela perdeu que ele estava com sede.
Ela perdeu que ela era a mais nova presa dele.
E exatamente como nos filmes, um herói apareceu para salvar a mocinha do diabólico vilão.
Um herói que parecia como os anjos dos filmes:
Loiro, alto, olhos azuis que brilhavam na noite e a pele cremosa.
Um anjo que usava calça de moletom, uma camiseta de um time de futebol e tênis de corrida.
E ela desmaiou quando sentiu seu sangue sendo drenado.

 Seis

Matteo nem pensou, apenas arrancou o vampiro baixinho do pescoço da humana que havia desmaiado e o jogou para longe.
-Minha zona, minha presa. Meu território, meus humanos. O que você não entendeu ainda? – gritou ele segurando a frágil humana nos braços e a colocando de maneira cômoda no chão.
-O que eu não entendi é porque um vampiro que não possui mais nada vem para o meu país dar ordens para cada cara que encontrar pela frente! – retrucou o baixinho que se chamava Estefano.
Matteo e ele já haviam se encontrado algumas vezes. Estefano já havia apanhado muitas vezes.
Estefano gostava de apanhar, pensou Matteo.
-Seu país? – perguntou Matteo levantou uma sobrancelha de maneira zombadora - Seja muito bem-vindo ao País Estefano, espero que sua estadia aqui seja memorável. – ele agora estava imitando um guia - turístico - Cala a boca, moleque. Vai para casa assistir Pokemon e deixe os adultos trabalharem. – ordenou ele o dispensando com a mão como se ele fosse um mosquitinho chato. Estefano havia sido transformado com vinte e cinco anos, como a maioria dos vampiros, mas não aparentava ter nem quinze anos e todos se aproveitavam disso.
Estefano se levantou do chão e encarou Matteo por alguns instantes até que Matteo riu.
-Como é encarar alguém trinta centímetros maior que você? Pare com isso antes de ter um torcicolo. – brincou ele ainda rindo e o baixinho bufou e apontou para a humana.
-O que vai fazer com ela? – perguntou lambendo os lábios sujos com o sangue dela.
-Minha presa, lembra? Faço com ela o que quiser, agora vá embora antes que eu esgote meu estoque de paciência com você. – ordenou Matteo novamente e dessa vez Estefano o obedeceu e desapareceu pelas ruas douradas de Roma.
Matteo encarou a humana jogada no chão. O que diabos iria fazer com ela?

 Sete

Violet abriu os olhos. Sua cabeça doía um pouco onde ela havia batido na noite anterior e o corte em sua perna ardia. Estava com fome, estava com sede. Onde ela estava?
Levantando da cama onde estava deitada encarou o lugar. Era um quarto de homem, só podia ser. Não tinha nada ali além de roupas sujas jogadas em todos os cantos fazendo companhia para revistas de esportes e várias capas de DVDs vazias espalhadas pelo chão.
Olhou para si e viu que ainda estava com o vestido azul curtinho e isso era bom. Era um sinal de que ela não havia bebido demais e se enroscado na cama com um italiano desconhecido.
E como um baque a memória do que aconteceu na noite anterior a invadiu com força:
Vampiros. Havia sido atacada por um vampiro. Anjos. Havia sido salva por um anjo, um anjo bem sexy, diga-se de passagem...
Completamente em pânico andou pelo apartamento impossivelmente escuro até encontrar um outro quarto, onde tinha um cara deitado na cama.
Era o anjo.
Ele estava sem camisa e com uma calça de moletom bem folgada preta, o que contrastava muito com sua pele claríssima e cremosa e seu cabelo dourado brilhava com a luz do abajur ligado.
Ele parecia um doce. Um doce muito, muito apetitoso.
Ela engoliu alto, realmente estava com água na boca e ele abriu os olhos e a encarou.
Como ela a ouviu se estava com fones de ouvido?
-Vejo que acordou. – comentou ele tirando os fones de ouvido e ela pode ouvir um rap americano soando bem alto vindo do mp3 dele.
Anjos vão à academia.
Anjos lêem revistas de esporte.
Anjos assistem DVD.
Anjos escutam rap?
-Onde estou? – perguntou ela num sussurro. O anjo emanava uma energia estranha até ela. Ao mesmo tempo em que tudo que ela queria fazer era se jogar nele, literalmente, ela queria sair correndo porque sabia que ele era perigoso, que ele não era humano.
Ele revirou os olhos, se despreguiçou e levantou da cama.
-Como acordou, posso dar um jeito na sua memória. – comentou ele se aproximando. Ela deu um passo para trás.
-O que vai fazer? – ela estava com medo agora. Ela ainda queria se jogar nele.
-Vampiros não existem. Você apenas tropeçou, onde conseguiu um bom arranhão na perna e uma ótima concussão para embaralhar as idéias. Por isso não se lembra de muita coisa, eu lhe encontrei caída no chão e a trouxe para a minha casa, mas você já vai voltar para aquele lugar de onde saiu. – ele falava tão perto dela, os olhos azuis dele brilhavam e a visão dela ficou embaçada. E ela se viu assentindo. Sim, foi comprar sorvete e caiu. Desmaiou. Acordou aqui. Sim, era isso.
Era?
-Fácil, fácil. – ele sorriu e ligou a televisão. Estava passando o jornal que dava ao entardecer e ela se sobressaltou.
-Eu dormi tanto assim? – ela sabia que devia perguntar um monte de coisa, mas não se lembrava por que. Agora parecia tão importante saber disso.
-Você estava desmaiada. – respondeu ele procurando uma camiseta no guarda-roupa. Pra que ele faria isso? Lamentou ela. – De onde você é? Você não é italiana, isso é obvio. – perguntou ele enfim encontrando uma camiseta de um time de basquete americano.
-Sou de Newday, uma cidade no oeste de...
-Eu sei onde fica. – interrompeu ele e a analisou por alguns minutos. Ela se contraiu. Era estranho ter um cara olhando assim para você, desse jeito... Como se ele pudesse ver por debaixo de suas roupas. Essa idéia não pareceu tão absurda e ela se sentiu corar.
Ele levantou as sobrancelhas como se soubesse no que ela estava pensando e ela perguntou:
-E você, de onde é? Não é italiano também. – ela tinha que dizer alguma coisa.
Ele sorriu.
-Sou italiano sim, mas morei muito tempo longe daqui. – ela ia perguntar onde é que ele morou, mas ele saiu do quarto e ela o seguiu.
Ele pegou uma jaqueta e a vestiu. Pegou uma carteira e um molho de chaves e a olhou.
-Vamos, já anoiteceu. – ordenou ele calçando um tênis rapidamente.
-Pra onde? – ela bem que queria ficar ali com ele, mesmo achando que isso era estranho. Ela nem sabia quem era ele ou o que... Como assim, o que?
-Vou te levar para casa, vamos. – chamou ele abrindo a porta e ela foi. O que mais poderia fazer?
Ele a levou até o estacionamento do condomínio e se aproximou de uma grande moto vermelha, uma Kawasaki*. Que foi? O pai dela lia as mesmas revistas que esse cara.
E a moto combinava com ele, ela achou.
Ele perguntou o endereço do hotel dela, ela respondeu, ele subiu na moto e ela fez o mesmo, mas não gostou muito como ficou.
Ela estava de vestido, vestido curto, o tecido subiu por suas coxas e ela podia sentir o corpo dele a encostando ali... Sim, ali. Ela sentiu uma queimação subir por seu corpo e apertar aquele lugar em particular. Apertou as coxas e sem querer, acabou o apertando também, tanto com as coxas quanto com os braços que envolviam sua cintura.
-Não tenha medo, controlo a minha velocidade com quem nunca fez isso antes. – comentou ele e pela sua voz, ela sabia que ele estava sorrindo.
Esperava que ele estivesse referindo a andar de moto, só isso.
E os dois seguiram em silêncio pela linda Roma até chegar ao hotel dela.
Essa moto:
http://www.motorcyclespecs.co.za/Gallery/Kawasaki%20ZZR1400%2006%20%208.jpg

 Oito

Um filho-da-puta dos infernos estava batendo na porta. Não era nem seis horas da tarde ainda e o sol brilhava lá fora. Quem estava incomodando há essa hora?
Era um humano. Um humano cheiroso. Matteo reconhecia esse cheiro. O mesmo cheiro ainda estava nas cobertas de sua cama onde estava dormindo.
Era a linda humana que salvou a alguns dias no centro da cidade.
Mas que merda ela queria vindo aqui?
-Abra a porta, por favor, por favor! – gritou a humana do outro lado e ele abriu. O que mais poderia fazer?
Ela entrou correndo e ele a encarou. Ela estava suada, seu short curto deixava o corte em sua coxa à mostra, mas isso não era a única coisa gostosa ali... Suas pernas eram lindas e... Bem, ela era linda e bastante apetitosa, ainda mais assim, suada, com as bochechas vermelhas, coração batendo acelerado e com o cabelo bagunçado.
-Estavam me seguindo... – disse ela ignorando por completo o olhar dele.
-E você se perdeu no caminho para a delegacia e resolveu vir aqui? – rebateu ele. O que ela queria? Não tinha tempo para humanas estrangeiras virgens, por mais gostosas que fossem.
-Não... Eu só achei que tinha que vir aqui... Porque... Não sei... Não consigo lembrar... Mas você tem algo a ver com isso... Esses caras que estavam me seguindo... Eram como você. – ela realmente parecia bem confusa e ele teve pena dela.
Vampiros estavam a seguindo.
Ela não lembrava da existência deles, é claro, ele havia embaralhado as memórias dela.
Droga, droga, droga...
-Quando você vai embora? – perguntou ele um tempo depois.
-Quê?
-Quando você vai voltar para Newday... Sabe, casinha do papai e da mamãe, escolinha com as amiguinhas, cinema matinê... Essas coisas... Quando vai embora? – quanto mais cedo ela fosse embora, mais cedo esses vampiros idiotas largariam de tentar se vingar dele.
A coitada da humana havia se metido no meio de vampirinhos revoltados com o chefe.
-Você é um idiota, sabia? – disse ela depois de ter o encarado por algum tempo.
Ele bufou, revirou os olhos, se jogou no sofá e colocou os pés na mesinha de centro.
-É o seguinte, garota humana... Você está sendo seguida por vampiros, Ok, agora seu cérebro vai te devolver suas verdadeiras memórias... – ele fez uma pausa enquanto a assistia arregalar os olhos e ver neles o conhecimento voltando e o pânico também – eu era Líder de um Clã de vampiros perto de Newday e agora estou aqui em Roma. Como sou um Vampiro Líder, tenho direitos, como por exemplo, escolher minha zona de caça, escolhi Roma como meu Território, nenhum outro vampiro pode caçar aqui, exceto aqueles que eu autorizar. Os vampirinhos daqui estão bravos comigo por causa disso, por isso estão seguindo você agora... Eu não te matei e eles acham que você é especial para mim de alguma maneira, como se a sua morte fosse me afetar. – ele revirou os olhos mais uma vez, como se essa idéia fosse muito absurda e continuou – Você terá que partir o mais rápido possível para que continue viva, e ai, o que vai ser? – perguntou ele e ela o encarou sem palavras.
-Eu não posso ir embora agora. – foi o que ela disse depois de algum tempo.
-Não tem dessa de “não posso”... Você tem que ir embora... Eles irão matá-la, você sabe disso, não sabe? Só não te mataram porque querem te ver assustada... Vocês ficam mais apetitosas assim... – ele piscou seu olho esquerdo e ela se encolheu.
E ele se deu conta do quanto filho-da-mãe estava sendo... Ela era só uma garota que estava passando as férias sozinha num país completamente desconhecido e não tinha culpa nenhuma por ter dado de cara com um grupo de vampiros irritadiços.
Ele se aproximou de onde ela estava sentada e se ajoelhou para olhá-la nos olhos.
-Qual é mesmo o seu nome? – ele sabia que não tinha perguntado antes.
-Violet. – respondeu ela o olhando nos olhos. Os olhos dela eram lindos, como ele não tinha visto isso antes?
-Violet, eu sou Matteo e quero ajudá-la... Você não tem culpa por estar no meio dessa bagunça... Da minha bagunça... Quero que volte em segurança para sua casa e para sua vida e esqueça essas merdas que viu aqui. – disse ele de maneira reconfortante e ela se sentiu reconfortada, mas mesmo assim...
-Eu não posso ir embora, eu não quero ir embora, eu não vou embora. – disse ela de maneira convicta e ela sorriu.
-Então acho que terei que ser o babá de uma humana, o que mais eu poderia pedir?

 Nove

Ficar trancada com um vampiro num apartamento luxuoso até parece ser a coisa mais legal do mundo. Mas não era bem assim, Violet descobriu.
Matteo era aquele tipo de cara que ficava deitado o dia inteiro – está certo que ele era vampiro, mas ele podia fazer alguma coisa, não podia? – e nunca, nunca tirava os fones de ouvido.
O que ela poderia conversar com ele?
Sem contar que ela estava se sentindo claustrofóbica por ficar trancando ali dia e noite.
Matteo podia não falar, mas até que era atencioso e não parava de pedir comida para ela.
Violet nunca comeu tanta pizza ou lasanha na vida como comeu nesses dois dias.
Ele buscou suas coisas no hotel onde ela estava hospedada e agora ela estava hospedada ali, na casa dele. Legal, não?
-Eu tenho que me alimentar. – disse ele aparecendo do nada atrás dela no sofá onde ela estava deitada vendo televisão. Em italiano. Ela só adivinhava o que eles estavam falando. Oi, tédio!
-Ah, então você fala? – ironizou ela desligando a televisão e o encarando. Não dava para se acostumar com o fato de estar dividindo o apartamento com um modelo de revista masculina... Não, não dava para acreditar nisso... Ah, e ele ainda era um vampiro.
-Só quando eu quero. – respondeu ele empurrando as pernas dela da mesinha de centro para colocar as suas. Ela nem ligou, apesar do toque dele mandar mensagens muito obscenas para seu cérebro.
-É o seguinte, Violet... – disse ele sem enrolar e estalando os dedos para que ela prestasse atenção, como se ela já não estivesse fazendo isso – Temos duas opções aqui... Primeira: eu bebo de você e não precisamos sair, alegria, alegria... Segunda: saímos e eu te deixo numa sorveteria enquanto arrumo algo para... Beber. – ele deu um sorrisinho sedutor com o canto dos lábios rosados – E então, o que vai ser? 
Ela o encarou por muito, muito tempo, até que ele revirou os olhos impaciente e colocou os fones de ouvido novamente.
Ela piscou aturdida e puxou um dos fones de sua orelha e disse:
-Você quer beber de mim? – Sugar o sangue? Assim? Não, Violet estava hiperventilando.
-Sim, sabe... Eu sou um vampiro e é isso que a gente faz. – respondeu ele dando os ombros como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Só no mundo dele, não no dela.
-Você não vai beber meu sangue, ah, não vai não! – disse ela histérica e ele revirou os olhos novamente e balançou os ombros, num gesto bem “tanto faz”.
-Molto bene, você que sabe... Mas você iria gostar. – Comentou ele sorrindo com aquele sorriso perigoso novamente e ela desviou o olhar.
-Vamos de uma vez, já escureceu. – reclamou ele enquanto ela tentava amarrar os tênis na rapidez dele. Ele era muito chato, ficava toda hora com aquele “fa subito” dele... Ela queria tacar alguma coisa nele.
-Nós não vamos de moto. – disse ela enquanto desciam as escadas. Ela não queria ir agarrada a ele novamente... Quer dizer, cara, é claro que ela queria, mas ela não queria sentir aquela estranha sensação entre as pernas... Era muito estranho, era perturbador... Era sufocador.
Estava quente, não?
Ele deu os ombros mais uma vez e os dois saíram em direção ao centro da cidade.

 Dez

-Fique aqui, não se mexa...
-Nem respire? – interrompeu ela rindo e ele retrucou:
-Bem, mas daí eu terei que fazer respiração boca a boca em você, que tal?
Ela se ruborizou e ele sorriu.
-Está bem, fique aqui e não saia...
-Não vou sair, não quero morrer. – interrompeu ela novamente e ele sorriu e pegando os dois completamente de surpresa, ele acariciou sua bochecha com as pontas dos dedos, deixando um leve rastro quente na pele de Violet.
Ele sorriu novamente e se afastou, indo procurar uma presa. Estranhamente ele percebeu que não queria o sangue de ninguém essa noite, apenas de uma garota de cabelo cobre, não muito alta, de olhos castanhos escuros que chorava por qualquer coisa...
Merda, estava se interessando por uma humana... Uma garota humana que estava com os dias contados se ficasse com ele... Merda, merda, merda...
Voltando para onde ela estava, viu que ela conversava alegremente com dois rapazes de sua idade e eles estavam fascinados por ela... é claro que estariam, quem não estaria?
O que ele devia fazer? Será que ele podia chegar e mandá-los de volta para o colo da mamãe ou isso era muito pouco?
Ele queria mesmo era... Estrangulá-los. Sim, era isso... O que esses moleques estavam pensando ao conversar desse jeito com a mulher dele?
Parando como se tivesse levado um choque, Matteo encarou o vazio.
A mulher dele, que porra era essa?
Tarde demais, amigo, avisou uma voz em sua cabeça, já era, fim do jogo, acabou. Você está apaixonado, você a quer e ela é sua.
-Vamos,eu tenho que mostrar um lugar para você. – disse ele a puxando pelo braço que gritou algo para os rapazes.
-O que aconteceu, tem gente nos seguindo? – perguntou ela enquanto era arrastada.
-Sim... Quer dizer... Não... Vamos apenas sair daqui. – murmurou ele completamente confuso.
-O que aconteceu? – perguntou ela novamente.
-Já foi ao Coliseu? – perguntou ele ignorando a pergunta dele.
-Não, eu iria na sexta-feira, mas...
-Então é pra lá que nós vamos. – disse ele sorrindo.
-Mas é noite! Está fechado... E...
-E eu posso fazer o que eu quiser... Esse país é meu... – respondeu ele rindo, se mostrando subitamente animado e ela quase caiu ao ver seus olhos azuis brilhando de alegria.
Ele podia rir para sempre, não podia?

 Onze


-Eu não consigo enxergar nada. – reclamou ela logo que entraram naquele lugar incrível e... Invisível para seus olhos humanos que não enxergavam no escuro.
Matteo foi para trás dela e colocou suas mãos nos olhos dela, cobrindo sua visão e o cheiro dele a invadiu... Ele cheirava a sabonete e a algo mais... Algo mais cítrico, como limão ou... A outono, não importa, ele cheirava bem.
Ele levou seus lábios ao ouvido dela e sussurrou:
-Não precisa enxergar para perceber o quanto esse lugar é maravilho, apenas sinta... - ele se aproximou ainda mais e ela escorou nele, largando todo seu peso naquele peito forte.
-Temos pedra, temos pedra... Temos pedra e pedra... – ele tirou as mãos dos olhos dela e a abraçou pela cintura, deixando seu queixo no ombro dela. – Mas aqui não é frio, é quente por todas as vidas que passaram por aqui, por todo o sangue que foi derramado, por toda a vida que foi tirada e por todo o amor e paixão que os amantes aqui esbanjaram... Você não sente o cheiro?
Ela sentia cheiro de terra, de pedra... De suor... De coisas antigas... De sangue... De sexo... Mas nenhum cheiro era tão bom quanto o cheiro dele, nenhum...
Ele a pegou no colo e pulando, pulando e pulando, eles chegaram lá embaixo, aonde ninguém mais ia, onde ninguém os via, onde nem os anjos poderiam tocar...
Eles se deitaram na escassa grama e olharam para o céu. Uma estrela cadente caiu, fazendo com que Matteo se lembrasse de uma noite a alguns meses atrás.
-Faça um pedido. – disse ele e a assistiu enquanto ela fechava os olhos e seus lábios se mexiam numa prece silenciosa... Aqueles lábios... Aqueles lábios...
Ela o olhou e sorriu.
-O que você pediu? – perguntou ele olhando apenas para aqueles lábios.
-Se eu contar, não se realiza. – respondeu ela encarando com curiosidade. – E você, que pediu?
-Isso. – disse ele antes de se apossar por completo daqueles lábios cheios e lindos.
E o beijo foi diferente de todos os beijos da vida de Violet, ela não estava beijando um garoto da escola ou um cara que ela conheceu na balada, não... Ela estava beijando um homem que sabia exatamente o que estava fazendo, que sabia onde colocar as mãos e o que fazer com a língua enquanto ela se enroscava no abraço dele.
Ele murmurou algo em italiano antes de chegar à veia do pescoço dela. Ela suspirou alto, ou gemeu, não fazia diferença, mas seu respirar ecoou de maneira fantasmagórica numa das sete maravilhas do mundo.
Ele não perguntou, não precisou, apenas cravou suas presas na carne macia dela.
E Matteo tomou seu sangue, tomou corpo, tomou as lágrimas que jorravam dos olhos emocionados de Violet, tomou o suor do corpo dela e tomou cada gota dela em cada dobrinha escondida em seu corpo.
E quando acabou, as respirações ofegantes dos dois faziam marabalismo no ar quente do verão italiano.
-Meu pedido foi realizado. – disse ela deitada no peito dele, cobrindo seu corpo nu com a enorme camiseta dele.
-O quê, você pediu uma noite de sexo comigo? Acho que você me enganou direitinho quando pensei que era uma garotinha inocente. – brincou ele e ela deu um tapa no peito dele, um tapa que ele não sentiu.
-Não, eu pedi que algo bom me acontecesse. – respondeu ela se sentindo tímida, mas poderosa, mulher.
-E foi bom? – perguntou ele se mostrando inseguro e ela sorriu.
-Foi lindo. – respondeu e ele a beijou novamente. Mais uma vez e outra, apenas porque queria, porque podia.
-Correndo o risco de soar completamente clichê depois do que nos aconteceu, tenho que dizer que acho que estou apaixonado por você. – disse ele a olhando com uma seriedade que ela não tinha visto ainda em seus olhos.
-Você acha? – perguntou ela sorrindo porque era só o que ela sabia fazer.
-Acho... Por que pode ser o seu cheiro, pode ser a lua, pode ser o lugar... Acho que deve ser isso. – respondeu ele rindo e mais uma vez , ela deu um tapa nele.

 Treze

-Merda. – disse Matteo entre os dentes assim que sentiu o cheiro salgado de sangue vampiro.
-O que foi? – perguntou ela se levantando e se vestindo rapidamente com a ajuda dele.
-Estefano. – respondeu ele apenas ignorando o olhar perdido dela.
Um minuto depois, um vampiro baixinho apareceu onde eles estavam.
-Ora, ora... Que romântico... – debochou ele e instintivamente Matteo se pôs na frente de Violet.
-O que você quer, Estefano? – rugiu Matteo furioso. – Você se esqueceu daquela nossa historinha de meu país, meu território, minhas presas? Você está pisando no meu território, atrapalhando a minha caça e sobrando num encontro com a minha mulher. – disse ele com seus olhos brilhando de fúria e Estefano sorriu.
-Ah, estávamos certos em julgá-la sua, certo?
-Não... Ela não passava de uma humana pra mim, mas vocês foram muito uteis agindo como cupidos, obrigado.. Espero que a agência de namoro onde vocês trabalham lhes recompensem. – disse Matteo sorrindo de uma maneira perigosa, mas não perigosa de maneira sedutora, perigosa de maneira cruel, de maneira vampira.
-Não... Ela não passava de uma humana pra mim, mas vocês foram muito uteis agindo como cupidos, obrigado.. Espero que a agência de namoro onde vocês trabalham lhes recompensem. – disse Matteo sorrindo de uma maneira perigosa, mas não perigosa de maneira sedutora, perigosa de maneira cruel, de maneira vampira.
-Você nunca fala sério? – perguntou Estefano bravo.
-Conte de dez a zero, garota humana. – pediu Matteo e Violet apenas o encarou confusa.
-Conte... Por favor. – pediu ele piscando seus olhos azuis e ela trancou uma risada e começou a contar.
Antes que chegasse ao número cinco, Estefano já tinha sua cabeça jogada para fora do corpo e oscilava, morrendo.
-Bom, dessa vez foi rápido. – disse Matteo sorrindo e se virando para Violet que deu um passo para trás.
Ele a encarou zangado.
-Você sabia que eu era um vampiro, você sabia que o que eu fazia, então não aja assim. – disse ele rispidamente.
-Ser um vampiro faz de você um assassino? – rebateu ela no mesmo tom ríspido.
-Não, faz de mim um sobrevivente. – disse ele cruzando os braços sobre o peito.
-Mas não era a você quem ele queria, era a mim. – teimou ela mesmo sabendo que estava agindo sem sentido.
-O que você não sabe, garota humana, é que eu não saberia sobreviver sem você. – disse ele e ela o encarou. Podia amar alguém assim tão rápido?
Pois ela amava Matteo.

 Catorze

Acordou e viu suas malas prontas ao pé da cama. O sonho tinha acabado, iria voltar para casa, iria deixar o príncipe encantado para trás.
Bom, quem havia dito que ela era uma princesa?
-Eu não queria ir embora. – disse ela pra si mesma, mas Matteo ouviu.
-Você não precisa ir, sabe disso. – disse ele sentando-se ao lado dela na cama.
Os dias tinham passado tão rápido, dias onde eles passavam jogados no sofá, ela vendo filmes ruins e ele ouvindo música em seu mp3, mas seus dedos entrelaçados e sempre haviam pausas para longos beijos.
E as noites foram todas um sonho lindo e quente.
Acabou.
-Mas meus pais... Eu tenho que voltar para eles... Odeio isso, essa história idiota de ter que sacrificar alguma coisa para ser feliz! Não devia ser assim! – gritou ela irritada e ela a segurou em seus braços.
-Eu irei com você. – ela não confiava em seus ouvidos, por isso perguntou:
-Você vai?
-Sim... O amor não é sacrifício, o amor é benefício.
-Então eu sou uma beneficiada por ter você? – perguntou ela sorrindo contra a bochecha dele.
-Digamos que eu sou um brinde que você ganhou ao fazer uma grande compra. – respondeu ele desabotoando os pequenos botões da nova camisola dela.
-E o que é que eu comprei? – perguntou ela brincando com o cabelo dourado dele.
-O amor, a felicidade, o mundo dos sonhos dentro da realidade. – disse ele no último botão, depositando um beijo leve na barriga dela.
-Bem, isso foi uma grande compra realmente. – disse ela acariciando a nuca dele com a ponta do dedo.
-Agora eu preciso saber... Está satisfeita com o produto? - perguntou ele levantando-se para olhá-la nos olhos. Olho azul no olho castanho.
-Sim... Mas nada é assim tão perfeito e é por isso que eu o amo tanto... Não há nada que tenha conserto. – respondeu ela beijando levemente os lábios dele.
Lábios que sorriram.
-Clichês me deixam excitado, sabia? – perguntou ele sorrindo e arrancando o que restava da camisola dela.
-Que tal essa: Você é a razão da minha vida. – brincou ela arrancando também as roupas dele.
Ele gemeu.
-Meu Deus...
-Não posso viver sem você.
A cama tremeu com o rugido que saiu da garganta dele.
-Pare...
-Você é a minha vida, meu mundo.
Ele a virou rapidamente, ficando em cima dela.
-Se não parar agora, terá que suportar as conseqüências. – ameaçou ele deixando bem claro quais eram as conseqüências.
-Você não tem que ter medo, tem que enfrentar tudo de frente. – foi a resposta dela.
-Eu te amo, sabia? – disse ele levando finalmente os lábios aos lábios dela.
-Sim e esse é o melhor clichê que eu poderia ouvir.

Fim

- Se você gostou, comente. Isso é importante e me faz sorrir.

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