quarta-feira, 6 de abril de 2011

PRIMEIRO CAPÍTULO DE CHAMAS DE SANGUE


Parte I

“Eu mordi você, bebi do seu sangue, você morreu. Lhe alimentei com meu próprio sangue, você voltou e agora é um vampiro, assim como eu.”
Capítulo Um

Queriam que ela gritasse e foi isso mesmo que ela fez quando disse:
-O que você quer de mim?
Estava nua, mais uma vez, apenas coberta por um fino lençol branco de algodão que pareceu tremer por causa do agudo irritante de seu grito. Até seu cabelo pareceu se bagunçar um pouco mais. Eles iriam adorar isso.
-Me passe a bolsa, o que está esperando? - ordenou o homem nu da cintura para cima, fazendo com que seu peito largo esculpido por músculos brilhasse a pouca luz. Estava como queriam que ele estivesse: Aterrorizante.
-E o que você está esperando? - gritou ele novamente ao perceber que a mulher já estava abrindo a boca para interrogá-lo. Irritante.
Ela piscou uma, duas, três vezes antes de se mover. Convencia a todos que era boba demais. Segurando o lençol firme ao peito, se abaixou para pegar a pequena bolsa que estava jogada no chão mal cheiroso do quarto abafado.
Sua mão estava tremendo de maneira visível quando passou a bolsa cor-de-rosa para a mão do homem que a fitava com os olhos a fazendo sentir arrepios. Ele sorriu diante de sua tremedeira exagerada.
-Hummm... – murmurou ele longamente - Então não é doadora de sangue? – ele havia jogado tudo que tinha na bolsa dela aos pés da cama e estava catando algo em sua carteira.
A mulher pareceu ligeiramente confusa, mas respondeu:
-Não, por quê?
-Então, o que você acharia de se tornar uma doadora de sangue agora? - perguntou o homem, dando um vasto sorriso branco, deixando que ela visse seus caninos afiados e seus olhos vermelhos. Assustador, sexy. Estava perfeito assim. A luz também.
-O que você é? - perguntou ela se mostrando assustada, mas parecia mais fascinada com o que estava vendo. Isso era quase difícil de fazer, mas ela fazia bem.
-Digamos que sou um morcego de dentes afiados, meu bem. - respondeu o vampiro em tom estranhamente agradável enquanto passava língua sobre seus caninos afiados e assustadores.
-Algo como o Drácula? - perguntou a mulher abaixando a cabeça para o lado, o analisando.
O vampiro revirou os olhos vermelhos, mas não muito, para não estragar tudo.
-O Drácula não existiu, folclore de gente desocupada... - debochou ele balançando a mão como mostrando sua impaciência. Foi meio falso, mas valeu.
-Ok. Não é o Drácula... –Ele voltou a revirar os olhos – Então o que você é? - desafiou a mulher mostrando uma coragem que na verdade não possuía. Divertido. “Perfeito” quase gritou alguém.
-Sou um vampiro, baby. - Respondeu ele levantando as sobrancelhas e sorrindo de um modo sedutor. Sua marca registrada.
-E o que você quer de mim?  - gritou ela voltando a ficar preocupada, com olhos arregalados, ela grudou as costas na cabeceira de madeira da cama, puxando o lençol consigo para se cobrir um pouco mais, deixado apenas seus pés de fora. Poderia ter deixado mais de perna para fora, mas estava bom assim.
Ele bufou sem paciência, como se ela fosse a criatura mais burra que já encontrou na vida.
-Vampiro... Mulher... Noite... O que acha que eu quero?
-O quê? - perguntou ela e seu tom agudo.
-Seu sangue... - respondeu ele humildemente, com um sorriso amigável e com seus olhos vermelhos brilhando, como se dissesse “uma bala de menta, por favor?”.
-E se você me morder... Serei um vampiro também? - ela tinha que parecer animada e ele ainda mais impaciente.
-Não! Claro que não!
Ela desinflou visivelmente. Um pouco exagerado, mas era assim que gostavam.
-Por que não?
-Estou há duas horas com você... Só de pensar em passar a eternidade ao seu lado, dói meu coração, não literalmente, né... Mas você entende o que eu digo. - divagou o Vampiro realmente impaciente. Aquele “né” foi improvisado, mas eles gostaram.
-Então não sei por que me escolheu. – comentou a mulher desanimada, parecia magoada, ofendia até, por ser rejeitada pelo vampiro. Realmente, realmente divertido.
- Diversão e alimentação andam juntas e de mãos dadas. E você vai atravessar a rua essa noite. - disse ele piscando seu olho esquerdo e fazendo um ‘click’ com a boca. Sua segunda marca registrada.
-Não consegui entendê-lo. - disse a mulher confusa.
O vampiro revirou os olhos e começou a explicar em uma voz mais alta, e bem pausadamente como se ela sofresse de alguma doença mental que retardasse seu raciocínio:
-Você me proporcionou diversão essa noite e daqui a alguns instantes, você me proporcionará alimentação.
E claro, ele deu mais um daqueles seus sorrisos sedutores.
-Ah! - disse ela como se entendesse, mas seu olhar ainda estava em dúvida.
Ele balançou a cabeça, murmurou um palavrão e se aproximou dela.
-Vamos direto ao assunto.
Enquanto ela gritava histericamente, ele mordia seu pescoço.

-1, 2, 3 e corta!
No momento em que o diretor gritou, as luzes do set de filmagem se acenderam e muitas pessoas invadiram o cenário para exercer quaisquer que fossem suas funções.
A camareira levou um felpudo roupão para a atriz que ainda estava nua por debaixo dos lençóis, depois acendeu o cigarro da mesma ignorando claramente o aviso “Proibido Fumar” preso na parede. Ela era paga para fazer isso.
A atriz levantou e se arrastando foi saindo do set, mas conseguiu ouvir o grito do diretor:
-Essa tomada não ficou boa! Meia hora aqui, Debora, meia hora!
-Ei, Richard, eu sei o que tenho que fazer. - respondeu ela rispidamente sem olhá-lo e continuou a andar vagarosamente pelos cenários de mais um filme onde ela é a estrela.
Quase riu com esse pensamento. Estrela.
Debora seguiu em frente, ignorando a todos que tentaram “trocar uma palavrinha” com a querida atriz, seguiu com seu arrastar de pés, seu cigarro sendo tragado de maneira compulsiva e sua cabeça voltando para trás a cada dois segundos. Não era um tique nervoso que ela ganhou nos últimos dias, não... Acreditava que estava sendo seguida, estava sendo seguida, tinha certeza disso. Nunca foi do tipo paranóica, mas aquela sensação de olhos cravando suas costas não era imaginação...
Pelo menos era no que queria acreditar, a opção de estar ficando louca não era aceitável. E nem barata.
Entrou em seu trailer – esse era um elogio dos bons ao se referir ao cubículo de lata que fora designado a ela – apagou seu cigarro no cinzeiro, abriu a minúscula geladeira e tirou uma garrafa de cerveja com um suspiro de alivio.
Também não era alcoólatra, mas ser atriz não era fácil, não para ela.
Esqueça aquela coisa toda sobre glamour, flashes, dinheiro. Na maioria das vezes, ser atriz é uma droga.
-Debora... É... A cena da mordida... O que acha de ensaiarmos mais um pouco? Sabe como o Richard é perfeccionista, não? - antes de Vinicius, o vampiro, terminasse o que estava dizendo, Debora fechou as cortinas com um puxão e deu as costas para ele, deixando o bonito ator falando sozinho.
-Sabe, para um cara bonito falta um bocado de confiança. - debochou ela acendendo outro cigarro. Mas os homens são assim, sempre faltando alguma coisa.
Ela estava se dando conta disso ultimamente.
-Bom dia! - disse Rodrigo animado como sempre, invadindo e ocupando todo o espaço de seu trailer. Também estava vestido como sempre, roupas justas e coloridas para deixar a mostra seu corpo trabalhado de modelo de passarela apesar de sua idade avançada.
-Bom dia? Só se for para você, meu amigo. - bufou ela jogando-se em uma enorme cadeira enquanto dava outro gole em sua cerveja.
-O que o malvado do Richard fez dessa vez? -perguntou ele pacientemente e quase de maneira paternal, com um sorriso tranqüilizador no rosto.
Ela o amava, amava mesmo. Não importando seu humor, Rodrigo sempre era paciente, parecia entendê-la e se não o fizesse, fingia entender apenas para fazê-la feliz. Ela acreditava que ele mais fingia do que entendia, mas os melhores amigos são assim mesmo.
-E ele precisa fazer algo? Só de ter me dado esse papel ridículo já se livrou de fazer alguma “maldade” contra mim durante um longo século. - reclamou ela irritada acendo outro cigarro.
Sim, era viciada em nicotina. Daqui a alguns anos talvez desenvolvesse um câncer.
Não se importava.
-Calma... É só uma fase. Até as maiores estrelas já passaram por essa fase... Essa dos filmes ridículos. - afirmou ele enquanto pegava um grande nécessaire com utensílios de maquiagem se aproximando de Debora.
Ela o olhou e teve que rir.
- Que grande conselho, não?
Mas esse era Rodrigo. Sempre dizendo a verdade, mesmo que doesse. Como todo amigo de verdade deveria ser. Tinha sorte de tê-lo ao seu lado nessas horas, mesmo com seus conselhos fáceis e seus olhares de repreensão.
-Mas vai passar antes que se acostume, agora vire o rosto pra mim. - pediu ele gentilmente e ela o fez.
-Acho que o lado positivo dessa historia é: jamais vou me acostumar com isso, jamais... Então quer dizer que vai demorar, certo? - brincou ela enquanto ele começava a trabalhar em sua pele.
Durante todo o processo de maquiagem, os dois conversaram sobre as frustrações de Debora nesse seu novo filme, mais um sobre vampiros, mais um que ninguém irá assistir, o único papel que ela conseguiu em meses.
Bom, às vezes não se deve recamar.
Mas reclamar era seu esporte preferido.
-Eu vi o Vinicius ali fora quando eu estava chegando.  - comentou Rodrigo assim que terminou, guardando suas ferramentas no nécessaire que mais parecia uma maleta de homem de negócios.
Certo que Rodrigo poderia se passar por um homem de negócios e não por um maquiador, se você não desse importância ao fato que ele não era homem e que “homens de escritório” também não estavam em sua lista de preferência. Ele preferia aquele tipo presente em toda academia. É, fortão e suado. Cada um, cada um.
-Ele queria ensaiar... - respondeu ela irritada. Vinicius era um homem bonito, o clichê dos clichês no que se refere a um ator, mas ele era insuportável, infantil, arrogante...
Bom, ela poderia continuar com essa lista por um tempo e sem repetir nenhuma vez a palavra.
-Não sei eram só essas suas intenções. - comentou ele erguendo as sobrancelhas comicamente.
Debora revirou os olhos e acendeu outro cigarro.
O sexto já? Ah! Que se dane!
-Ah! Você não acha que ele é bonito? Que vale a pena? - perguntou o amigo tentando melhorar o humor de Debora.
-Bonito é... - concordou ela de má vontade, e dizendo bonito como se quisesse dizer “sujo”.
-Mas? - quis saber ele percebendo que ela fazia uma careta.
-Mas parece que falta algo nele... - franzindo o cenho ela olhou para o amigo, concentrada.
-Falta algo nele? - perguntou ele como se isso fosse impossível e ela assentiu.
Rodrigo engasgou de tanto rir e ela o encarou confusa.
Ótimo, estavam rindo dela agora?
-Ora, ora... Parece que a minha menininha está se tornando exigente... Houve uma época em que você “dava atenção” até aqueles que lhe faltavam dedos.
Ela jogou alguma coisa nele.
Passado era passado. Ninguém precisava lembrar disso, certo?
E ela estava bêbada. Muito, muito bêbada só para constar.
E era sexta-feira e as sextas-feiras são perigosas.
-O que falta nele? Bom... Eu não consigo imaginar. - comentou Rodrigo se deslumbrando com sua imaginação.
-O cérebro. - respondeu ela rispidamente voltando a prestar atenção em seu cigarro. Que parecia ser bem mais saboroso que o Vinicius-eu-saio-em-três-capas-de-revista-por-mês.
-Você tem que parar com isso, só faz mal a você. - brigou ele puxando o cigarro da boca de Debora e o jogando na pia, ligou a torneira e esperou até que o cigarro apagasse.
Debora encarou o cigarro apagado como se ele fosse uma pessoa morrendo. Só faltou chorar e pedir que ele voltasse para ela.
 -Exagerada... - disse ele ao ver a expressão de tristeza dela.
-Sabe, além do mais, não vou morrer tão cedo. - contestou ela quase rindo.
-Não sei... Já tem pessoas que estão seguindo você. – ele tentou não parecer debochado, mas não conseguiu.
-É verdade! – gritou ela - Tem alguém atrás de mim, não sei por que, não sei o quer, mas estou sendo seguida sim e não é minha imaginação.  - até teve que rir de sua teimosia.
Parecia uma louca. E os primeiros “sintomas” da loucura não eram exatamente estes? Mania de perseguição, memória distorcida, coisas perdidas, mudanças de personalidade?
-Ah! Pode ser um fã obcecado ou, quem sabe, algum paparazzo... - brincou Rodrigo dando gargalhadas.
Com essa Debora teve que rir também, era impossível ter fãs, qualquer pessoa que gostasse um pouquinho que fosse de si, não perderia duas horas do seu tempo assistindo qualquer um de seus filmes, ou de seus comerciais que apenas passavam nas madrugadas por causa da censura.
Mas o sinal tocou cedo demais e era a hora de voltar a trabalhar.
Ela voltou para o set de filmagem e ficou horas por ali, filmando as cenas de hoje, refilmando as mesmas, muitíssimas vezes cada uma, ouvindo as piadinhas completamente sem graça de Vinicius, ouvindo as broncas de Richard sobre seu posicionamento ou sobre qualquer outra coisa que ele quisesse.
Ser atriz era o sonho de Debora desde bem nova, mas ter de aturar uma equipe como esta, ter de aturar fazer um filme como este era a prova de que seu sonho havia se tornado um pesadelo há muito tempo e que ninguém havia se lembrado de acordá-la para tirá-la dali o mais rápido possível.
Às vezes a simplesmente não é melhor acordar, claro que ela não sabia disso.
No seu trailer, quando estava se trocando e colocando as suas roupas de verdade, sem ser aquelas que sua personagem usava ou se esquecia de usar na maioria das cenas, Debora tinha certeza de que ter visto alguém pela janela, ou pensou ter visto.
Mas era muito claro e vivo esse seu pensamento para que fosse sua imaginação, ela viu a silhueta de alguém alto, alguém vestido de preto, alguém ou algo que sumiu assim que ela o percebeu ali.
Ok. Estava na hora de reavaliar o pensamento de “eu-não-estou-louca”.

-Você está ficando louca, sério... Isso já está indo longe demais, Debora.  – afirmava Rodrigo enquanto dirigia a levando para casa. - Antes achei que era brincadeira, agora você realmente me preocupa.
-Tinha alguém na minha janela, Rodrigo. Eu vi. - teimou ela como uma menininha de cinco anos de idade que afirmava ter visto algo embaixo da cama. O que vinha depois?
“Deixa eu dormir com vocês?”
“Tem um bicho-papão no meu armário, mata pra mim?”
-Pode ter sido Vinicius, ou qualquer outro pervertido que estava no set. Você sabe, aquele lugar está sempre lotado de gente diferente todo o dia. - sisse ele estacionando em frente ao prédio onde Debora morava.
-É, pode ser. - concordou ela de má vontade descendo do carro e batendo a porta com força desnecessária.
-Não se esquece, hoje as onze eu passo aqui e pego você. - gritou ele pela janela quando ela já estava a uns metros de distância.
-Aonde vamos mesmo?
Perguntou ela virando o pescoço para olhá-lo.
-Naquele restaurante novo perto do parque, a gente passou por ali esse fim de semana. - respondeu ele com um sorriso animado. Animado demais.
E quando um amigo parece animadinho demais é porque alguma coisa tem.
-E por que essa animação? - perguntou ela virando o corpo inteiro para encarar o amigo. Com Rodrigo sempre tinha que desconfiar, ele sempre tinha alguma carta escondida embaixo da manga, alguma coisa de última hora que ele se esqueceu de contar. Sempre.
-O Vinicius vai estar lá... Tenho certeza de que hoje vocês desistem dessa historinha estúpida de serem apenas amigos. - respondeu Rodrigo, mas antes que Debora pudesse gritar e xingá-lo, ele já tinha acelerado e ido embora. O filho-da-mãe.
Droga! Só o que faltava agora era um “encontro” com Vinicius...
Faltava um monte de coisa acontecer, ela é que não sabia.
Quando já era quinze para a meia-noite, Debora resolveu descer e esperar seu amigo atrasado lá embaixo, enquanto fumava mais um cigarro.
Era bom poder fumar sem que ele a dissesse o quanto aquilo estava prejudicando a sua saúde e toda aquela mesma a história de sempre.
A rua estava vazia, exceto por alguns carros que passavam rápido demais, e como sempre, Rodrigo não estava atendendo ao telefone e essa sua demora costumeira estava dando nos nervos de Debora, não pelo fato de ele estar atrasado, não, isso nunca a incomodou até porque seria hipócrita se o fizesse, ela também não era muito amiga de relógios, mas o que estava a deixando nervosa era aquela sensação de ter alguém atrás dela, aquela sensação de que tinha alguém a observando, ela até podia sentir os olhos desse alguém em seu corpo, em seu rosto, em seu olhar.
Quando se virou para olhar para o outro lado da rua, e fixou a visão em alguma coisa que parecia um homem, o telefone tocou e a assustou.
-Sim, você já devia estar aqui... Eu estou aqui embaixo... Hein, Rodrigo... Vem rápido, por favor...  - disse ela ao telefone sem se dar conta do tom de pavor em sua voz, e quando fez seu olhar se fixar novamente no outro lado da rua, a coisa que ela tinha visto não estava mais lá, mas a sensação de estar sendo observada continuava.
A noite passava lentamente, e tudo que Debora queria fazer era chegar em casa e dormir, dormir e dormir.
Não bastava ter que aturar a presença perturbadora de Vinicius o dia todo no set, tinha que suportá-lo em momentos onde ela não era a Debora atriz, era apenas Debora e dar ele a oportunidade de conhecê-la, de que ele estivesse assim tão perto de sua intimidade era um grande ultraje, era algo que a irritava muito, e o que irritava ainda mais era ver que Rodrigo estava fazendo de tudo para que os dois ficassem sozinhos, dando a desculpa de ir ali e aqui toda a hora, como o bom casamenteiro que era. Ela queria matá-lo.
Toda a vez que ele fingia ter que atender ao telefone, Debora o chutava com força por debaixo da mesa, ele só piscava e saia dali com aquele seu sorriso que mais parecia um soco.
Pareciam adolescentes no pátio da escola. Irritante demais.
Quando estava sozinha com Vinicius e ele começava se aproximar, trazendo a cadeira para mais perto ainda, ou falando bobagens em voz baixa para que Debora tivesse que se inclinar em direção a ele para entender o que ele estava falando, não que ela fizesse questão de entender, mas ela queria manter um clima pelo menos amigável com aquela criatura insuportável pelo menos até terminar as filmagens desse filme, claro que a lembrança de que a as filmagens tinham começando fazia apenas duas semanas e ainda teriam mais dois meses pela frente a fazia gritar por dentro e querer matar qualquer coisa que ela visse pela frente.
Enquanto ela fingia prestar atenção no assunto de Vinicius, ela notou que tinha um homem sentado sozinho em uma mesa no outro lado do salão, no momento em que ela o olhou, ele desviou o olhar, e deu um sorriso sem graça pra si mesmo enquanto balançava a cabeça.
Ela riu também, mas riu dele.
Do lugar onde ela estava ele parecia bonito, alto e de ombros largos, e tinha grandes olhos que deviam ser verdes e um cabelo castanho claro que brilhava de uma maneira hipnotizadora. Ela se deu conta que poderia ficar horas só olhando para o brilho do cabelo dele.
-Debora, você está me ouvindo? - perguntou Vinicius ao perceber que ela não estava prestando nem um pouco de atenção nele. Idiota, é claro que não.
-Na verdade, não. - respondeu ela rapidamente, ainda encarando o estranho da outra mesa. Percebendo o que havia acabado de falar, ela enganchou outra frase rapidamente:
-Mas é que estou preocupada com Rodrigo, ele já saiu faz tanto tempo e não voltou ainda.
-Ah... Você ainda não entendeu o que ele está tentando fazer a noite toda? - perguntou Vinicius de maneira sedutora inclinando a cabeça para perto do rosto de Debora. Exatamente como fazia o vampiro do filme. Ele era tão artificial. Tão... Previsível.
-Do que você está falando? - perguntou ela fingindo inocência, mas tranando um rolar de olhos.
-Ah... Você sabe do que eu estou falando... - respondeu ele se aproximando ainda mais. Agora ela podia sentir a fragrância do perfume dele. Era doce demais. Irritante demais. Vinicius era demais.
- Eu acho que eu vou procurar pelo Rodrigo... - disse ela se levantando rapidamente quase derrubando uma taça de vinho que estava em cima da mesa no colo de Vinicius que a segurou sem querer.
O homem da outra mesa riu, ela não percebeu.
Só parou de correr das tentativas de conquista de Vinicius quando já estava no estacionamento, procurando pelo carro de Rodrigo, mas estava escuro e encontrar um carro preto era quase impossível para seus olhos humanos.
‘Quem dera eu ser um vampiro agora’. - murmurou pra si mesmo rindo de sua bobagem.
Mas com certeza sua vida seria mil vezes mais fácil se fosse como muitos dos personagens que teve. Uma vampira forte, com olhos que enxergam na escuridão e essa história toda...
Mas Debora, nada é fácil.
E aquela sensação de estar sendo observada voltou, ela conseguia sentir novamente os olhos desse alguém misterioso que a seguia em suas costas, desenhando seu corpo lentamente e aquele arrepio voltou com tudo, a fazendo tremer. Tremer de verdade e não como no set hoje cedo.
 -O que você está fazendo aqui? - perguntou Rodrigo, baixando o vidro da janela de seu carro.
-Ah! Você está ai, me deixa entrar. - pediu ela entrando pela porta do motorista mesmo, passando por cima de seu amigo e sentando-se no banco do passageiro.
-O que aconteceu? - perguntou Rodrigo preocupado a assistindo enquanto ela tentava recuperar o ar e aquecer as mãos que haviam ficado geladas.
-Tem alguém ali fora me seguindo... - disse Debora histérica tremendo levemente. Sim, ela se parecia muito com a Stephany, personagem do filme.
-De novo essa história, Debora? - perguntou ele revirando os olhos e levemente irritado.
-Ah! Rodrigo, estou falando sério... – chorou ela - Tem alguém ali fora... Leva-me pra casa, vamos... – ela estava até implorando e contendo as lágrimas...
Lágrimas? Por que iria chorar? Droga... Estava mesmo enlouquecendo.
-Se você não queria mais ficar lá com o Vinicius era só pedir, não precisava fazer essa cena. - disse ele abrindo a porta do carro e colocando a perna para fora. Tinha perdido a paciência. Amava Debora, mas ela sempre acabava passando dos limites quando queria atenção.
-Aonde você vai? - perguntou ela o puxando pelo braço antes que ele saísse.
-Vou avisar ao Vinicius que vamos embora. - respondeu ele tentando se soltar dela para sair.
-Não, não precisa... Vamos. - teimou ela o puxando, fazendo com que ele batesse a cabeça tentando sair do carro.
-Já chega, Debora...  – gritou ele - Espera só um pouquinho, eu só vou ser educado, coisa que você se esqueceu de ser essa noite. - disse ele finalmente conseguindo puxar seu braço de volta e batendo com a porta do carro.
E Debora sentiu aquele par de olhos nela novamente, contornando seu rosto através do vidro escuro do carro de Rodrigo.
E ela sentiu algo ao seu lado, do outro lado da janela, mas estava com medo de olhar para o lado e ver esse seu perseguidor. Antes que estremecesse de novo, espiou de leve para o retrovisor ao seu lado, mas não viu nada... Só que continuava a com a sensação de sentir alguém do outro lado do vidro, por isso se virou para olhar, mas a porta de motorista já estava aberta e tinha alguém entrando.
Debora sentiu aquele arrepio subir levemente e queimá-la enquanto subia lentamente do seu pé até a cabeça, e então se virou novamente para olhar, seu corpo tremendo e sua testa suando frio.
E deu de cara com ele.

2 comentários:

  1. caramba, nunca t encontro no tt... mas, vi q vc teve vontade de dizer e eu digo agora, bem q vc avisou... rs
    ah, marcinha, posta a partir do cap 9, hehe, brincadeira, ainda comprarei um exemplar de cahamas de sangue e o terei na minha estante, sei disso.
    superbjo
    sucesso p tds

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  2. muito legal :D
    agora é esperar o capitulo 2
    eu ainda comprarei esse livro autografado pela autora e vo tirar uma foto com ela XD.
    sonhar é bom as vezes, hahaha'
    bjão Marcia L.B. Te Adoro

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