quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Conto - Aniversário Inesquecível

Oi, minha gente linda s2 Que saudade que eu estava de vocês e postar por aqui... Então, como todo mundo sabe, o orkut acabou *também sinto falta daquela época e da nossa comunidade*, e, antes de que a rede social fosse fechada, eu fui dar uma olhada nas nossas comunidades e achei a “The Burns e Você”, vocês lembram? Era onde eu postava os contos das meninas (e meninos!) que liam Burns e que queriam ter um conto com o personagem preferido da série. Daíí, eu vi que faltava uns contos a serem entregues às meninas... Desde aquela época *que horror, que horror, eu sei, eu sei*, mas antes tarde do que nunca, voltei para escrevê-los. E o primeiro é da Fernanda Oliveira, uma Burnicat tão, mas tããão amada que tinha até apelido: FEM – Fernanda Mascote, por ser a mais novinha que aparecia por lá na comunidade *fofo, fofo, eu sei*.

O personagem preferido dela é o Will *e de quem não é?*, e aí vai a sinope e o conto logo abaixo.

Espero que gostem:



Fernanda mal pode esperar para completar dezoito anos e ganhar seu carro, um sonho de infância. Mas será que ela não sabia que temos que ter cuidado com o que desejamos?
Em meio à confusão de formatura, decidir o que fazer da vida e todos os traumas adolescentes, ela conhece um cara misterioso interessado demais por seu carro.
E agora, quem poderá defendê-la?



Um

Fernanda mal podia esperar até terça-feira, quando completaria dezoito anos e ganharia seu presente. Ou assim acreditava.  Vinha esperando por isso desde bem pequena, quando puxava seu pai pela mão e apontava toda vez que via seu desejo na rua: "é aquele que quero, é aquele, papai!", e seu pai respondia: "é claro, Fem, é claro".
O final de semana pareceu se arrastar e ela preferiu nem sair de casa, apesar da insistência dos amigos em se distrair. Estava ansiosa demais para ficar perto de outras pessoas, ansiosa demais para ficar sozinha, estava... Quase tendo um surto.
Respirando fundo para se acalmar, deitou-se na cama com os fones de ouvido enfiados nas orelhas, a música no volume mais alto possível e adormeceu antes que se desse conta.
Teve um sonho que jamais esqueceria. Colocou a culpa na ansiedade depois que acordou.
Havia ganhado seu presente, mas alguém, era um rapaz? Esse alguém estranho, desfigurado como são as pessoas nos sonhos, meio sem rosto, sem forma, queria tirar seu presente tão desejado de suas mãos... Ela não podia ficar com o que havia ganhado porque... Os olhos, os olhos dele eram a única coisa que Fernanda conseguia ver, eram cinza e causavam arrepios.
Acordou no momento em que o os garotos de Liverpool pediam que a "querida" acreditasse neles... Não sabia exatamente onde estava, a blusa grudava no corpo pelo suor e o coração batia com força em seu peito.
Estava ficando maluca. Tinha que se acalmar. Seu presente viria, seus pais haviam prometido... Tudo ficaria bem. Pelo amor de Deus.
Era exatamente como sonhara desde pequena. Era como se seus pais o tivessem tirado dos pôsteres nas paredes de seu quarto e o colocado ali, encostado ao meio-fio da calçada. Brilhava com o Sol, ela conseguia se ver refletida na pintura preta, o cabelo castanho voando pelo vento e o sorriso bobo no rosto.
– É meu? – perguntou de maneira bem estúpida.
– Claro que é– respondeu sua mãe dando risada – Você é a única adolescente que gostaria de ganhar algo assim.
– É lindo! – exclamou dando pulinhos no lugar, ainda incapaz de chegar muito perto e ver seu sonho desaparecer. Não tivera coragem nem de tocá-lo.
– Vamos, pegue – ofereceu seu pai, colocando as chaves em sua mão. Ela se sentiu deslizar para dentro de um conto de fadas ao fitar o Fusca Preto que brilhava diante de seus olhos.
Os bancos eram tão macios contra suas costas quanto imaginou que seriam, o volante era firme em suas mãos e tudo cheirava a couro e a gasolina. Tudo era tão dela.
Se ao menos ela tivesse imaginado também o que aconteceria...

Dois

Alguns meses se passaram enquanto fazia a autoescola e passava no teste de direção. Era seu primeiro dia como motorista e queria comemorar. Teria uma festa no lago e todos seus amigos e conhecidos estariam lá. Era quase uma despedida antes da formatura. Levaria tantos coubessem no carro; mal podia se segurar de tanta alegria e ansiedade. Retocou a maquiagem, mais uma vez, no espelho retrovisor e saiu correndo porque estavam a chamando.
O grama era quase barro porque estivera chovendo um dia antes e seus tênis ficaram imundos em pouco tempo. Nem ligou porque a música era boa e o pessoal estava se divertindo.
Pegou outra garrafa de água e, sentando-se em um banquinho improvisado de caixa de cerveja, fitou a água escura do lago. A lua refletida naquela superfície que mal se movia a fez fugir dali e ir parar em um mundo só seu.  Perguntou-se onde estaria daqui dezoito anos, quem seria, que sonhos teria realizado e o que queria fazer agora. As pessoas a sua volta pareceram desaparecer, todos os amigos que teve a vida inteira... Alguns iriam embora para estudar em outras cidades, outros ficariam por ali, fazendo cursinhos ou trabalhando com a família. Muitos, como ela, simplesmente não sabiam o que fazer depois da formatura.
– Fernanda! – berrou alguém a arrancando de seus pensamentos. Sua melhor amiga estava a alguns metros de distância e, por sua expressão, dava para ver que não era a primeira vez que a chamava – Tem alguém rondando seu carro!
Levantou-se num pulo. Não sabia o que faria quando visse o possível ladrão, tudo que tinha que na mão era uma garrafa meio vazia de água, as chaves do carro e de casa e o celular que nem era grande o suficiente para causar algum estrago. Desejou, bem bobamente, ter um taco de baseball como nos filmes americanos.
Era um rapaz e não estava realmente rondando o carro. Tudo que ele fazia era estar escorado a uma árvore. Os braços cruzados e as pernas meio cruzadas também. Parecia esperar alguém.
– O que faz aí? – perguntou quando se aproximou dele. Não quis demonstrar que estava vistoriando o carro de longe. Não o reconheceu, se bem que ele estava na parte mais escura da floresta.
Tudo que conseguia ver era que era alto.
– O que você faz aqui? – retrucou o rapaz e ela deu um passo para trás com a potência de sua voz. Era grossa e poderosa. Rouca como um locutor de rádio.
– É a festa da 301 e eu sou aluna da 301. Você não parece um colega meu.
– E não sou mesmo – respondeu ele e se aproximou. Ele poderia passar por um aluno do terceiro ano se quisesse. Era um rapaz alto, ombros largos e braços fortes. Os cabelos eram castanhos e a pele pálida como se não visse sol há séculos. Com a luminosidade da lua, ele parecia quase azul.
– Eu nunca vi você por aqui – disse Fernanda colocando a mão no peito numa tentativa muito ingênua de controlar o coração que pareceu querer pular para fora do corpo.
– Estou visitando a cidade – continuou a se aproximar, o suficiente para que ela visse sardas em seu rosto e o dourado de seus olhos – Esse carro é seu ou dos seus pais?
– Por que quer saber? – ele era tão bonito e parecia tão perigoso, mas
passava uma tranquilidade com sua presença que a assustava. Ela não sabia se queria sair correndo para longe dele ou para os braços dele.
– Gosto de carros. – e deu de ombros.
– É meu.
– Posso te contar uma história? – perguntou ele ainda se aproximando, invadindo o espaço de Fernanda com toda sua presença, tanto que ela sentiu as costas baterem na lataria gelada do carro. Conseguiu apenas assentir. Sentia-se tonta, meio bêbada, mesmo sem ter bebido um gole sequer.
– Há muitos anos, existiu um casal; eles eram muito perigosos, gostavam de velocidade, de carros raros, de apostar. Dizem que a mulher era a mais perigosa dos dois, seus olhos cinza brilhavam com maldade sempre que conseguia algo que não deveria, mas sempre conseguia tudo que queria. Ele, tão apaixonado, dava-lhe tudo que ela pedia. Os dois rodaram o mundo inteiro atrás dos desejos desenfreados da mulher, até que ela pediu algo que ele nunca conseguiu lhe dar...
E fez silêncio por um momento. Fernanda ficou hipnotizada esperando que ele continuasse a história, mas o rapaz apenas ficou parado ali, encarando o nada.
– O que ele nunca conseguiu dar a ela? – perguntou quando não aguentou mais de curiosidade.
– O quê? – ele voltou-se para ela, como se despertando de um sonho. Fernanda lembrou-se de si mesma há poucos minutos encarando o lago.
– O que o idiota apaixonado nunca conseguiu dar a vadia louca?
Ele riu com a descrição dela dos personagens da história e ela sentiu o coração parar de bater um minuto antes de bater muito rápido. Ai, não, pensou. Aquela risada era quase infantil e iluminava todo seu rosto, deixando-o jovem, tão jovem que ela sentiu o impulso doido de abraçá-lo contra seu peito e acariciar seu cabelo.
– Esse carro. – respondeu, apontando para o fusca atrás deles e foi a vez dela de rir.
– Tem uma outra história que conta que...
– Você é cheio das histórias, cara misterioso – o interrompeu e, não resistindo ao impulso, tocou em seu braço. Sentiu seu sangue correr embaixo da pele de uma maneira que nunca sentira antes, como se quisesse pular para fora do corpo.
Ele se afastou e Fernanda se sentiu decepcionada sem saber por que. Como um gato ao escutar algum barulho suspeito, ela o viu levantar a cabeça e estreitar os olhos.
– Entre no carro, moça.
– O quê?
– Entre no carro e saia daqui.
– Quem você pensa que é par... – Fernanda não pode terminar de falar porque já estava sendo arrastada para dentro de seu fusca, apesar de seus protestos. Tentou gritar, mas ele foi mais rápido e tapou sua boca com uma mão.
– Apenas ligue o carro e acelere, não olhe para trás – sussurrou em seu ouvido – Tem gente vindo.
Ela simplesmente obedeceu.
Não tinha noção que seu carro podia acelerar tanto, mas sentia que ele também poderia estar com medo. O motor rugia a cada aperto insistente no acelerador, fazendo quase o mesmo som que seu coração desenfreado.
– Quem você disse que está atrás da gente? – gritou por cima do barulho do motor.
– Eu não disse. – respondeu o rapaz. Estava prestes a odiá-lo, percebeu. Não importava o quão bonito ou atraente ele fosse, Fernanda apenas queria esganá-lo.
– Então, o que você fez para eles?
– Eu não fiz nada – ela se virou a tempo de vê-lo dar de ombros irritantemente entediado – Eles apenas querem a mesma coisa que eu.
Quando ia perguntar o que era, lembrou-se, pela primeira vez desde que ele mandara ligar o carro e acelerar, de olhar pelo espelho retrovisor. Não havia ninguém.
Ninguém. Ninguém atrás deles.
Freou bruscamente, mandando os dois para frente. Sentiu o cinto queimar seu braço, mas não se importou com isso. Estava parada no meio de uma estrada deserta, de madrugada, com um desconhecido. Nem precisava verificar o celular para saber que ali não teria sinal. Ótimo. Ninguém nem merecia ficar triste com a morte de uma garota tão burra quanto ela.
– Você tem que continuar dirigindo...
Você tem é que sair do meu carro e me deixar em paz!
– Não posso deixá-la sozinha – ele retrucou e, na escuridão, houve um brilho de prata em seu olhar castanho – Eles estão vindo.
Estava nervosa demais para rir daquele clichê de "eles estão vindo". Com medo demais de mandá-lo sair de seu carro de novo e ter que suportar sua ira. Só queria que aquilo tudo terminasse e único medo que tivesse fosse sobre se iria ou não ganhar um bom presente de aniversário.
– Quem está vindo? – no momento em que terminou de dizer as palavras, uma sombra muito corpórea pulou no capô do carro e Fernanda não fez nada além de gritar. As árvores dos dois lados da estrada pareciam agora todas inimigas que escondiam outras criaturas como aquela a sua frente, que arregaçava os dentes para ela. O que era aquilo? Presas? Presas?!
Sentiu o pé do rapaz ao seu lado sobrepor ao seu no acelerador e sua mão na dela ao trocar de marcha e irem com tudo para frente, apesar dos protestos do carro que eram tão vãos quantos os dela.
O homem foi arremessado para longe, mas a paz não durou muito, porque logo se ouviu outro estrondo, dessa vez, sobre a cabeça deles e a lataria do carro ceder um pouco.
Fernanda já não sabia mais se gritava de medo ou de raiva por estarem destruindo seu lindo e amado carro.
– Eu disse para não parar! – gritou ele quando ouviram o segundo homem também cair.
– Eu não sabia que você falava a sério!
– Por que eu estaria mentido? – ele até soava ofendido.
– Eu não sei! – berrou ela, esgotada – Eu não te conheço!
Seguiram em um silêncio raivoso por quase uma hora; nem sabia mais onde estava, nunca saíra tão longe assim da cidade, não dirigindo pelo menos. Tudo era tão escuro e assustador.
Inclusive o ponteiro no painel indicando que a gasolina estava em suas últimas gotas. Era só o que faltava.
– A gasolina está acabando – avisou, quebrando o silêncio – Daqui a pouco, o carro vai parar.
– Daqui a pouco vai amanhecer – foi tudo que ele respondeu de volta.
Graças a Deus que tudo ficaria claro e talvez tivesse algum movimento pela estrada, pensou Fernanda, para que pudesse pedir ajuda. Logo, também, seus pais sentiriam sua falta e iriam procurá-la.
– Quero ir para casa – murmurou tão baixinho quando, finalmente, o carro morreu, que não esperava que ele ouvisse.
– Não destranque as portas, volto logo – avisou ele saindo do carro e desapareceu entre as árvores.
Agora morreria, pensou. Puf! Fim de uma vida.
Esperou por alguns minutos e resolveu se arriscar. O que de pior poderia acontecer a ela? Saiu do carro e começou a fazer o caminho de volta à cidade, rezando em silêncio para que não encontrasse aqueles homens bizarros no meio da estrada. Revisava o celular, esperando que o sinal milagrosamente aparecesse e pudesse chamar seus pais.
Não tinha andado nem meia hora quando tudo aconteceu muito rápido. Foi jogada para trás e sentiu a cabeça bater no esfalfo. Literalmente via estrelas quando apagou.

Gostaram? Podem baixar o conto completo aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário